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16.8.14

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Parte 3


3 - Prova Psicológica da Existência de Deus 1


Concluímos, já, duas etapas neste inquérito a respeito da existência de Deus. Em primeiro lugar admitimos que a maior dificuldade para a crença na existência do ser supremo era a admissão mesma da possibilidade de sua existência, o que foi satisfatoriamente resolvido pela constatação de que a possibilidade da nossa própria existência não é menos maravilhosa do que a de dele - sendo que a nossa existência já está dada. Em seguida concluímos que a definição mais apropriada e indispensável de Deus é a que o descreve como aquele que merece ser mais temido entre todos os seres existentes. Além disto também consideramos que para ser o nosso Deus Ele tem de possuir os atributos da consciência e da inteligência pois, no caso contrário, não poderia ser propiciado. Ainda mais, podemos ver agora que este Deus para ser reconhecido como Deus deve ser conhecido por suas manifestações na realidade em que existimos ou ter se dado a conhecer por si mesmo, uma vez que a nossa razão não possui a capacidade de conhecê-lo em seu próprio reino metafísico (devemos isto a Kant). Como poderíamos temê-lo sem dele nada sabermos, e de que maneira ele seria Deus sem ser o objeto principal do nosso temor e serviço? Assim sendo, é impossível acreditar que Deus não se deu a conhecer àqueles para quem ele deveria ser Deus por direito absoluto. Nesse caso seria como se não existisse como deus, pois ele é deus primeiramente para os outros e não para si mesmo. Portanto, o passo seguinte nesta nossa jornada em busca de uma prova concreta da existência de Deus é o de procurarmos indícios da existência patente de um ser que se deu a conhecer com características divinas. Ou, dentre todas as tradições que existem no mundo alegando serem revelações de Deus a seu próprio respeito daquela que o mostra primordialmente como sendo aquele ser para quem o temor é devido acima de todos, de quem a própria essência do seu relacionamento conosco é definida como sendo baseada no temor.

Porém, antes de nos dedicarmos à tarefa de procurar entre as tradições e escrituras religiosas que os homens possuem aquelas que mais se adequem a revelação da natureza essencial de Deus, que é a de poder despertar o temor absoluto, examinemos se é possível, utilizando tão somente a nossa capacidade de raciocínio e deixando de lado as conclusões kantianas a respeito das limitações de nossa razão pura nesta questão, conseguir obter alguma prova da Sua existência. Aventuremo-nos no mar metafísico, nem que seja em imaginação. Pois se a razão humana não dispõe de nem mesmo uma jangada para esta viagem a imaginação pode construir um transatlântico que se aventure bem além das ondas ameaçadoras que cercam a praia de nossa pequena ilha.

De acordo com a definição do filósofo Espinosa (1632-1677) é causa de si aquilo cuja essência envolve a existência, cuja natureza não pode ser concebida senão como existente. Ou seja, dada certa definição é impossível que a coisa definida por ela possa não existir. Este pode ser considerado o raciocínio mais perspicaz dos filósofos que se dedicaram a esta questão nos tempos mais recentes da história da humanidade. É também o ponto de partida (ou de chegada) das considerações de Descartes (1596-1650) a respeito da existência de Deus (ele existe porque eu penso nele como coisa existente e não consigo pensá-lo desta forma a partir, somente, de minhas próprias conjecturas). Os homens mais inteligentes do mundo não puderam negar a existência desta prova, entre eles o próprio Descartes, e também Espinosa. O primeiro afirmou que a existência de Deus era inseparável de sua essência, porque chegou a conclusão de que não podia pensar nele a não ser como coisa existente. Tal pensamento estava além de suas possibilidades. Já o segundo, simplesmente aceitou o que o primeiro comprovara, colocando a conclusão deste como pedra fundamental do seu sistema filosófico. Mas este não é um conceito simples - o de só se poder pensar em Deus como coisa existente - o qual possa ser apreendido apenas com o intelecto, porque necessita do apoio da convicção a qual repousa no sentimento e, principalmente, porque não temos um argumento bom o bastante para determinar quando uma definição é suficiente para que o seu objeto seja considerado existente a partir dela mesma. Quem tentar apreender o significado deste conceito somente com o auxílio de seu intelecto terá todos os motivos para afirmar que ele não prova nada.

Vamos, portanto, examinar de forma mais acurada o argumento cartesiano conforme ele está exposto na sua forma mais elaborada no livro “Princípios da Filosofia”, com as seguintes palavras: “Quando nós refletimos um pouco mais nas variadas idéias que estão em nós é fácil perceber que não há muita diferença entre elas quando as consideramos simplesmente como certos modos de pensar, mas que elas são completamente diferentes quando consideradas em referência aos objetos que representam; e que suas causas devem ser tão mais perfeitas em acordo com o grau de perfeição objetiva nelas contida. (Nota de pé de página: “tanto quanto o que elas representam de seu objeto tem mais perfeição”). Porque não há diferença entre este e o caso de uma pessoa que tem a ideia de uma máquina na construção da qual grande perícia é demonstrada, nas quais circunstâncias nós temos o direito de inquirir como ele chegou a ter tal ideia, se foi, por exemplo, por ter visto em algum lugar uma máquina semelhante construída por um outro, ou se ele foi tão acuradamente instruído nas ciências mecânicas ou é dotado de tal força de gênio que foi capaz de inventar a máquina por si mesmo, sem ter visto em algum lugar qualquer coisa semelhante; pois toda a genialidade a qual está contida na ideia objetivamente apenas, como se estivesse em uma pintura, deve existir, pelo menos, em sua primeira e principal causa, qualquer que seja, não apenas objetiva ou representativamente, mas em verdade formalmente ou eminentemente.” E também: “Quando nós temos uma ideia de qualquer máquina na qual grande perícia é demonstrada, usualmente nós sabemos com bastante precisão a maneira como a obtemos, e como não podemos nem mesmo relembrar quando a ideia que nós temos de um Deus foi comunicada por ele à nós, vendo que tal ideia esteve sempre em nossas mentes, é então ainda necessário que devamos continuar nossa pesquisa e inquirirmos de nosso autor, possuindo, como é o caso, a ideia das infinitas perfeições de Deus. Porque isto é evidente no mais alto grau, pela luz natural, que aquele que conhece alguém mais perfeito do que si mesmo não é a origem de seu próprio ser, uma vez que, se fosse, teria concedido à si mesmo todas as perfeições que conhece; e que, consequentemente, deve buscar suas origens em nenhum outro ser além daquele que possui em si mesmo todas as perfeições, ou seja, em Deus.” Vemos, por aí, que Descartes comparou a ideia que temos de Deus com a ideia de uma máquina mais complexa que qualquer uma que pudéssemos nós mesmos projetar (por nos faltarem as habilidades necessárias para tanto), e que tal ideia deveria portanto ter se originado em uma máquina construída por uma outra pessoa e a qual tivéssemos visto em algum lugar, querendo dizer com isto que o fato de termos em nós a ideia de um ser infinitamente mais perfeito do que nós mesmos, o qual nunca pudemos contemplar diretamente, é uma prova cabal de que esta ideia foi implantada em nós por este mesmo ser.

A grande dificuldade dos que consideram a validade do argumento teológico cartesiano talvez tenha partido do próprio Descartes quando tentou apresentar a sua prova como se fosse lógica – uma vez que tal argumento não é lógico, mas existencial. A própria expressão “argumento teológico” (theos = deus) encerra em si esta noção enganosa, de tentar provar a existência divina utilizando as ferramentas da lógica (indo de encontro às conclusões kantianas). Porém, para aquele que por si mesmo faz a experiência de se examinar quando pensa em Deus é impossível negar, como verificou Descartes, que ele exista. Esta é verdadeiramente uma experiência à que não se deve furtar o mais extremado dos auto proclamados ateus. Porém, para que ela seja realizada de forma eficiente é preciso que aquele que se dispõe a colocá-la em prática esteja revestido da maior honestidade intelectual. É necessário que todos os preconceitos sejam colocados de lado – principalmente a descrença absoluta, a priori, na existência do ser supremo. Assim como o próprio Descartes, por amor da verdade, considerou como necessário colocar em dúvida a convicção de sua própria existência, é necessário que se coloque em dúvida, para aqueles que têm tal coisa como certa, a inexistência de Deus. Conceda-se à inexistência de Deus o benefício da dúvida, da mesma forma como Descartes concedeu-o a sua própria existência. Quem não tem coragem de ir a tal ponto não possui consistência intelectual para negar a existência de Deus. Segundo o filósofo, a pessoa que se auto examinar a respeito deste assunto estando revestido da honestidade e da boa vontade necessárias não poderá deixar de afirmar que Deus existe, pois irá constatar claramente que lhe é impossível pensar em Deus separado de Sua existência.

A verdade é que até mesmo para um observador externo e imparcial da experiência dos ateus a respeito de Deus fica claro, pelas suas reações, que se dirigem a ele como a um ser existente – pois é impossível que alguém experimente emoções passionais a respeito de algo que não existe. Passionalidade implica necessariamente a existência de um sujeito a respeito de quem se é passivo. Que os ateus se exponham ao teste de tentar pensar na existência de Deus de forma não passional, admitindo que o mínimo resquício de passionalidade associado ao pensamento de Deus depõe a favor de Sua existência e expõe um preconceito e uma inclinação tendenciosa naquele que deseja negá-la. Esta é, então, e sempre será, a prova psicológica mais forte da existência de Deus: que sempre se pensa nele ou à ele se dirige como alguém que existe, e só é possível negar a sua existência indo contra este sentimento irrefutável.

Costuma-se pensar no ensinamento de Descartes a respeito da existência divina como sendo uma espécie de prova lógica montada a maneira de um silogismo: “penso em Deus como um ser existente, logo, Deus existe.” Porém, o significado verdadeiro do pensamento do filósofo se expressa da seguinte forma, psicológica: “Não consigo pensar em Deus como ser inexistente, logo ele existe.” Descartes, na verdade, mostrou aos homens o caminho para a certeza da existência de Deus através de um exame de consciência imparcial e criterioso. Mas para os que têm o hábito da dúvida, ou para aqueles que têm motivos para desejarem afirmar a não existência de Deus, seria preciso que se despojassem de suas motivações ocultas e adquirissem o costume da imparcialidade; em suma, que adotassem de forma irrestrita a norma socrática de se auto conhecerem. Portanto, a prova maior da existência de Deus é, a princípio, puramente existencial e psicológica. E é uma prova irrefutável para todos os que se auto examinarem de forma honesta.

Além disto, no instante mesmo em que alguém se dá conta que é impossível que pense em Deus dissociado da sua existência, também adquire a certeza da impossibilidade puramente racional desta convicção, pois sabe que não chegou a ela por meio da razão pura, através de um raciocínio qualquer com forma silogística. Uma vez que surge dentro de nós esta consciência da existência de Deus ela só pode ter sido implantada em nossa mente como ideia pura ou ter chegado a nós de forma intuitiva através das muitas provas que encontramos na natureza ao nosso redor, as quais, embora sem declararem objetivamente haverem sido produzidas por Deus, atestam claramente à nossa consciência não poderem existir independentes da sua ação ou criação. Estas são as duas únicas fontes primárias possíveis do reconhecimento psicológico da existência de Deus.

Ainda, como todos os homens que alcançam a maturidade tem tido várias oportunidades no transcurso de suas existências de dirigirem o seu pensamento ao ser supremo e constatarem que, quando isto acontece, não deixam nunca de fazê-lo como se referindo a um ser que possui a existência (o que se depreende da passionalidade de suas reações naqueles momentos), os homens nesta condição só podem negar a existência de Deus motivados por um desejo de viverem como se ele não existisse. Porém tal desejo só começa a existir a partir do momento em que este Deus se torna conhecido para eles em sua própria substância mais particularizada, ou seja, em sua personalidade, trazendo exigências que se chocam com aquilo que os homens querem ou não fazer. Neste momento as alternativas para os homens desobedientes são: 1) empenhar-se por negar ou desacreditar a veracidade dos testemunhos na criação deste Deus revelado, enganando-se a si mesmos; 2) negar a própria revelação da existência de Deus em suas consciências, o “cogito Dei, ergo Deos est” (o que se classifica como ateísmo); 3) não negar a revelação de suas consciências, mas sim a revelação legítima de Deus, procurando estabelecer um Deus de acordo com os seus próprios desejos, ou a partir das tradições da humanidade (religião natural), ou a partir de seus próprios conceitos (religião filosófica).

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