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16.8.14

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Introdução


Introdução


Neste texto proponho-me a demonstrar, cabal e principalmente, não a existência pura e simples de Deus, se Ele existe ou não, mas o que considero ser a premissa principal para a realidade deste fato, qual seja, a possibilidade mesma da Sua existência. O raciocínio a ser desenvolvido tem a seguinte forma silogística clássica:

a) É possível que Deus exista; posso, portanto, procurar as provas de Sua existência em paz com as exigências de minha racionalidade.
b) Encontro uma prova da existência de Deus que satisfaz as exigências da minha racionalidade;
c) Logo, Deus existe.

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A Inteligência no Universo


Suponhamos um número limitado de elementos interagindo continuamente. Por exemplo: uma praia com algumas rochas próximas da água. Os principais elementos participantes da ação, neste caso, serão os seguintes: a água do mar, as rochas, a areia da praia e o vento. Contando com apenas estes elementos podemos deduzir da ação de uns sobre os outros várias conseqüências lógicas, as quais se sucederiam no decorrer de um determinado período de tempo, umas após as outras num processo contínuo de causa e efeito: o vento agitaria a água formando ondas que se quebrariam na praia atingindo as rochas; estas, finalmente, seriam plenamente desintegradas; logo a areia ao alcance da água tornar-se-ia, pelo movimento constante e atrito a que estaria submetida, cada vez mais fina e misturar-se-ia com a água, que ficaria turva. Todas estas conseqüências estão logicamente supostas nos elementos primeiramente considerados. Nada aconteceria por acaso. Admitindo-se então que qualquer fato acontecido no universo teve como ponto de partida um certo número de elementos interagentes que o tornaram possível através da atuação da lei de causa e efeito verificamos que tudo procede de algo, de uma determinada situação anterior e está, por este motivo, existencialmente justificado naquilo de que procede. Pois é da interação de um certo número de elementos dotados de qualidades enérgicas que se desenvolvem, aparentemente, todas as possíveis circunstâncias universais. Desta maneira temos como conteúdo a priori da existência a matéria e o movimento, ou energia. Estas duas substâncias podem ser compreendidas sob uma mesma designação, ou seja: matéria animada.

Todas as circunstâncias, sem exceção, inscrevem-se num padrão de vir-a-ser logicamente suposto a partir de suas situações originais, o que elimina a validade da concepção comum de acaso, uma vez que qualquer assim chamado “acaso” depende da existência de certas condições anteriormente presentes configuradas como matéria animada. Por outro lado, a partir de um certo nível dos acontecimentos concorrentes é praticamente impossível analisar as causas de um fato determinado, dada a quantidade destas que cooperaram para que ele viesse a  acontecer. Como desde sempre vem os elementos interagindo e gerando por si mesmos situações que são sempre dinâmicas e evolucionárias sem que o ser humano participe determinantemente do processo, e sem que tenha consciência das condições geradoras de cada acontecimento, chamamos as vezes de acaso ao que resulta desta série de desenvolvimentos. Logo, e na verdade, “acaso” é como denominamos qualquer fato isolado acontecido à partir da interação de elementos e forças naturais, independentemente da atuação humana.

O ser humano tem, entretanto,  a prerrogativa de recombinar os elementos que estão a sua disposição no ambiente em que vive, agindo ele próprio como uma força natural dotada de vontade e gerando situações complexas, porém de um tipo diverso daquelas que acontecem por si mesmas, ou seja, daquelas que contam apenas com a pura e simples interação natural dos elementos energizados. Desta forma podemos reconhecer facilmente se um objeto ou situação determinados devem sua existência à ação de algum ser consciente, primeiramente devido a sua complexidade, que é característica  nestes casos. Por outro lado, a interação natural (que é como estaremos denominando, daqui por diante, o processo assim chamado de “acaso”) também pode, no transcorrer de um prazo consideravelmente longo e com o concurso de um grande e variado número de elementos, gerar novas situações dotadas de um certo nível de complexidade. Tais situações, no entanto, tem a sua concretização restringida pela lei das probabilidades, a qual rege as interações naturais. Isto quer dizer que, a par de sua raridade, a partir de um certo nível de complexidade não é possível que surjam novos elementos e a situação se torne mais complexa. Ao ser atingido tal nível e deparando-nos com qualquer objeto ou situação que ultrapassa tais possibilidades constatamos que, neste caso, algo de inusitado, distinto da simples interação natural, esteve operando, algo que só pode ser descrito com o uso da palavra “inteligência”. Mas apesar do fato de que sempre ligamos a operação da inteligência com a atuação da mente humana, encontramos no universo exemplos inumeráveis de situações que apresentam alto nível de complexidade, muito além da mais remota possibilidade da simples interação natural, nos quais a inteligência humana não teve, indubitavelmente, qualquer participação na sua concretização.

Além disto, apesar da funcionalidade das coisas existentes, de sua justificação em seus precedentes, tal fato não significa que todas elas devessem necessariamente existir, como se, por exemplo, Van Gogh “devesse” pintar uma cadeira amarela num certo dia de sua existência em Arles. Pois ele poderia, perfeitamente, ter selecionado qualquer outro tema como objeto de sua arte naquele momento. Tal fato, entretanto, não diminui a funcionalidade da obra efetivamente realizada nem a desjustifica diante dos elementos que a precederam e tornaram possível. Trata-se, neste caso, de uma escolha consciente. Deparamo-nos aqui com uma linha demarcando a fronteira entre a interação natural e a opção inteligente: com a primeira possibilidade tudo acontece necessariamente. Com a segunda, tudo depende da escolha de um ser consciente. Logo, ao nos vermos frente a resultados práticos que só podem ser atribuídos à esta última, pensamos imediatamente no homem criativo como seu agente eficaz. No entanto, também neste caso existem exemplos numerosos de objetos e situações complexas no universo anteriores e além do alcance da ação puramente humana, objetos e situações que não tinham necessariamente que existir e que apontam para a necessidade de uma escolha consciente - tal como a cadeira de Van Gogh.

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Parte 4


4 - Prova Psicológica da Existência de Deus 2


O argumento ontológico que baseia a prova da existência de Deus na perfeição de sua ideia foi primeiramente apresentado por S. Anselmo (1035-1109). Diz, em suma, que a existência deve ser necessariamente atribuída a ideia (essência) de um ser perfeitíssimo. Descartes foi um pouco além, afirmando que o fato de existir na mente humana a ideia de um ser perfeitíssimo só pode ser o resultado da existência deste próprio ser. O problema com estes raciocínios, apesar de estar contida neles uma grande verdade, começa com as próprias palavras com que são colocados: “argumento” ontológico ou “prova” ontológica. Quanto à esta última palavra, “prova”, seria válida se tivesse o sentido de uma experiência, mas não como o resultado da construção de um silogismo, pois a verdadeira prova da existência de Deus só pode brotar naturalmente de uma experiência na consciência do indivíduo. Tal prova pode ser dividida em dois tipos, um deles positivo e o outro negativo. No primeiro tipo, o qual podemos apodar de “prova existencial positiva”, o sujeito da experiência deve examinar-se e ver se consegue pensar em Deus sem que a este pensamento esteja associada à consciência de sua existência. Para a efetividade da experiência não é necessário que a palavra “Deus” seja definida com precisão, porque a simples menção da palavra “Deus” é suficiente para despertar na consciência individual a ideia da substância e essência do ser supremo, e nada mais precisa ser dito a respeito. Portanto, havendo se colocado este pensamento a respeito de Deus, examine-se o indivíduo com objetividade para ver se quando nele pensa não o faz como a um ser existente – da mesma forma como sempre pensa a respeito de si próprio ou de uma pessoa do seu conhecimento particular. Quer dizer, quando alguém pensa objetivamente a respeito de si mesmo é impossível que não esteja convicto da própria existência. Mas se alguém pensar a respeito de si mesmo não objetivamente pode fantasiar que é não-existente – não, porém, sem estar consciente de que tudo não passa de uma fantasia de sua mente. Da mesma forma, pensando não-objetivamente pode-se fantasiar a não-existência de Deus; porém, desde que não se pretenda enganar a si mesmo, sabe-se que se está apenas fingindo. É impossível pensar em Deus da forma mais objetiva sem estar consciente de que ele existe.

A segunda prova pode ser chamada de “prova existencial negativa” e consiste em esforçar-se por pensar em Deus, de forma não-passional, como não existente, observando sempre o critério da objetividade. Verificar-se-á que assim como é impossível que alguém pense a respeito de si mesmo como não-existente, ficando ao mesmo tempo convicto da veracidade deste pensamento, da mesma forma não se pode pensar em Deus como não-existente estando ao mesmo tempo convicto da veracidade deste pensamento, a não ser que se caia na armadilha da passionalidade, o que revela a falsidade da própria convicção. Refiro-me aqui a espécie de passionalidade que é causada em nós por seres vivos que julgamos dotados de inteligência.

Uma terceira prova ainda mais concludente que as duas primeiras é possível, a qual pode ser chamada de “prova existencial definitiva”, mas que possui um único inconveniente, que é o de não poder ser realizada de forma planejada; ou seja, esta prova independe da vontade da pessoa que vai realizá-la – mas tal é, justamente, o seu mérito. As duas provas anteriores se ressentem da dificuldade de se colocar no estado de completa objetividade necessário para que sejam feitas da forma mais adequada, uma vez que o indivíduo se condiciona para realizá-las e nesse condicionamento surge uma oportunidade para o afloramento de preconceitos. Consiste pois esta terceira prova em que alguém procure, num exame criterioso de suas memórias, analisar se cada vez que o pensamento de Deus surgiu em sua mente tal acontecimento esteve associado a um estado de atividade ou de passividade. Constatar-se-á que sempre que se pensou em Deus no passado se o fez de duas maneiras: se de forma ativa, quando estávamos dirigindo os nossos pensamentos de uma maneira consciente, tal acontecimento se deu nas ocasiões em que filosofamos a respeito de sua essência, ou seja, tentando descobrir quais são os seus atributos, e nestas ocasiões sempre nos dirigimos naturalmente a ele como a um ser dotado de existência. Se de outra forma, ou seja, nas vezes em que o pensamento de Deus surgiu espontaneamente na nossa consciência, estivemos sempre dominados pelo sentimento da paixão, o que evidencia que nossas considerações se dirigiam a um ser dotado de existência, uma vez que é impossível ser passional com respeito a uma simples quimera.

Além de examinar suas memórias, o que não é uma coisa fácil para muitas pessoas, o indivíduo que pretende ter certeza a respeito desta questão da existência de Deus, ainda no âmbito desta terceira prova, deve adotar a atitude de examinar o seu estado mental cada vez que, no futuro, o pensamento de Deus surgir espontaneamente na sua consciência. Deve-se adotar este auto-exame nestas ocasiões como uma verdadeira norma de vida – com certeza a mais importante que se pode adotar.

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Parte 3


3 - Prova Psicológica da Existência de Deus 1


Concluímos, já, duas etapas neste inquérito a respeito da existência de Deus. Em primeiro lugar admitimos que a maior dificuldade para a crença na existência do ser supremo era a admissão mesma da possibilidade de sua existência, o que foi satisfatoriamente resolvido pela constatação de que a possibilidade da nossa própria existência não é menos maravilhosa do que a de dele - sendo que a nossa existência já está dada. Em seguida concluímos que a definição mais apropriada e indispensável de Deus é a que o descreve como aquele que merece ser mais temido entre todos os seres existentes. Além disto também consideramos que para ser o nosso Deus Ele tem de possuir os atributos da consciência e da inteligência pois, no caso contrário, não poderia ser propiciado. Ainda mais, podemos ver agora que este Deus para ser reconhecido como Deus deve ser conhecido por suas manifestações na realidade em que existimos ou ter se dado a conhecer por si mesmo, uma vez que a nossa razão não possui a capacidade de conhecê-lo em seu próprio reino metafísico (devemos isto a Kant). Como poderíamos temê-lo sem dele nada sabermos, e de que maneira ele seria Deus sem ser o objeto principal do nosso temor e serviço? Assim sendo, é impossível acreditar que Deus não se deu a conhecer àqueles para quem ele deveria ser Deus por direito absoluto. Nesse caso seria como se não existisse como deus, pois ele é deus primeiramente para os outros e não para si mesmo. Portanto, o passo seguinte nesta nossa jornada em busca de uma prova concreta da existência de Deus é o de procurarmos indícios da existência patente de um ser que se deu a conhecer com características divinas. Ou, dentre todas as tradições que existem no mundo alegando serem revelações de Deus a seu próprio respeito daquela que o mostra primordialmente como sendo aquele ser para quem o temor é devido acima de todos, de quem a própria essência do seu relacionamento conosco é definida como sendo baseada no temor.

Porém, antes de nos dedicarmos à tarefa de procurar entre as tradições e escrituras religiosas que os homens possuem aquelas que mais se adequem a revelação da natureza essencial de Deus, que é a de poder despertar o temor absoluto, examinemos se é possível, utilizando tão somente a nossa capacidade de raciocínio e deixando de lado as conclusões kantianas a respeito das limitações de nossa razão pura nesta questão, conseguir obter alguma prova da Sua existência. Aventuremo-nos no mar metafísico, nem que seja em imaginação. Pois se a razão humana não dispõe de nem mesmo uma jangada para esta viagem a imaginação pode construir um transatlântico que se aventure bem além das ondas ameaçadoras que cercam a praia de nossa pequena ilha.

De acordo com a definição do filósofo Espinosa (1632-1677) é causa de si aquilo cuja essência envolve a existência, cuja natureza não pode ser concebida senão como existente. Ou seja, dada certa definição é impossível que a coisa definida por ela possa não existir. Este pode ser considerado o raciocínio mais perspicaz dos filósofos que se dedicaram a esta questão nos tempos mais recentes da história da humanidade. É também o ponto de partida (ou de chegada) das considerações de Descartes (1596-1650) a respeito da existência de Deus (ele existe porque eu penso nele como coisa existente e não consigo pensá-lo desta forma a partir, somente, de minhas próprias conjecturas). Os homens mais inteligentes do mundo não puderam negar a existência desta prova, entre eles o próprio Descartes, e também Espinosa. O primeiro afirmou que a existência de Deus era inseparável de sua essência, porque chegou a conclusão de que não podia pensar nele a não ser como coisa existente. Tal pensamento estava além de suas possibilidades. Já o segundo, simplesmente aceitou o que o primeiro comprovara, colocando a conclusão deste como pedra fundamental do seu sistema filosófico. Mas este não é um conceito simples - o de só se poder pensar em Deus como coisa existente - o qual possa ser apreendido apenas com o intelecto, porque necessita do apoio da convicção a qual repousa no sentimento e, principalmente, porque não temos um argumento bom o bastante para determinar quando uma definição é suficiente para que o seu objeto seja considerado existente a partir dela mesma. Quem tentar apreender o significado deste conceito somente com o auxílio de seu intelecto terá todos os motivos para afirmar que ele não prova nada.

Vamos, portanto, examinar de forma mais acurada o argumento cartesiano conforme ele está exposto na sua forma mais elaborada no livro “Princípios da Filosofia”, com as seguintes palavras: “Quando nós refletimos um pouco mais nas variadas idéias que estão em nós é fácil perceber que não há muita diferença entre elas quando as consideramos simplesmente como certos modos de pensar, mas que elas são completamente diferentes quando consideradas em referência aos objetos que representam; e que suas causas devem ser tão mais perfeitas em acordo com o grau de perfeição objetiva nelas contida. (Nota de pé de página: “tanto quanto o que elas representam de seu objeto tem mais perfeição”). Porque não há diferença entre este e o caso de uma pessoa que tem a ideia de uma máquina na construção da qual grande perícia é demonstrada, nas quais circunstâncias nós temos o direito de inquirir como ele chegou a ter tal ideia, se foi, por exemplo, por ter visto em algum lugar uma máquina semelhante construída por um outro, ou se ele foi tão acuradamente instruído nas ciências mecânicas ou é dotado de tal força de gênio que foi capaz de inventar a máquina por si mesmo, sem ter visto em algum lugar qualquer coisa semelhante; pois toda a genialidade a qual está contida na ideia objetivamente apenas, como se estivesse em uma pintura, deve existir, pelo menos, em sua primeira e principal causa, qualquer que seja, não apenas objetiva ou representativamente, mas em verdade formalmente ou eminentemente.” E também: “Quando nós temos uma ideia de qualquer máquina na qual grande perícia é demonstrada, usualmente nós sabemos com bastante precisão a maneira como a obtemos, e como não podemos nem mesmo relembrar quando a ideia que nós temos de um Deus foi comunicada por ele à nós, vendo que tal ideia esteve sempre em nossas mentes, é então ainda necessário que devamos continuar nossa pesquisa e inquirirmos de nosso autor, possuindo, como é o caso, a ideia das infinitas perfeições de Deus. Porque isto é evidente no mais alto grau, pela luz natural, que aquele que conhece alguém mais perfeito do que si mesmo não é a origem de seu próprio ser, uma vez que, se fosse, teria concedido à si mesmo todas as perfeições que conhece; e que, consequentemente, deve buscar suas origens em nenhum outro ser além daquele que possui em si mesmo todas as perfeições, ou seja, em Deus.” Vemos, por aí, que Descartes comparou a ideia que temos de Deus com a ideia de uma máquina mais complexa que qualquer uma que pudéssemos nós mesmos projetar (por nos faltarem as habilidades necessárias para tanto), e que tal ideia deveria portanto ter se originado em uma máquina construída por uma outra pessoa e a qual tivéssemos visto em algum lugar, querendo dizer com isto que o fato de termos em nós a ideia de um ser infinitamente mais perfeito do que nós mesmos, o qual nunca pudemos contemplar diretamente, é uma prova cabal de que esta ideia foi implantada em nós por este mesmo ser.

A grande dificuldade dos que consideram a validade do argumento teológico cartesiano talvez tenha partido do próprio Descartes quando tentou apresentar a sua prova como se fosse lógica – uma vez que tal argumento não é lógico, mas existencial. A própria expressão “argumento teológico” (theos = deus) encerra em si esta noção enganosa, de tentar provar a existência divina utilizando as ferramentas da lógica (indo de encontro às conclusões kantianas). Porém, para aquele que por si mesmo faz a experiência de se examinar quando pensa em Deus é impossível negar, como verificou Descartes, que ele exista. Esta é verdadeiramente uma experiência à que não se deve furtar o mais extremado dos auto proclamados ateus. Porém, para que ela seja realizada de forma eficiente é preciso que aquele que se dispõe a colocá-la em prática esteja revestido da maior honestidade intelectual. É necessário que todos os preconceitos sejam colocados de lado – principalmente a descrença absoluta, a priori, na existência do ser supremo. Assim como o próprio Descartes, por amor da verdade, considerou como necessário colocar em dúvida a convicção de sua própria existência, é necessário que se coloque em dúvida, para aqueles que têm tal coisa como certa, a inexistência de Deus. Conceda-se à inexistência de Deus o benefício da dúvida, da mesma forma como Descartes concedeu-o a sua própria existência. Quem não tem coragem de ir a tal ponto não possui consistência intelectual para negar a existência de Deus. Segundo o filósofo, a pessoa que se auto examinar a respeito deste assunto estando revestido da honestidade e da boa vontade necessárias não poderá deixar de afirmar que Deus existe, pois irá constatar claramente que lhe é impossível pensar em Deus separado de Sua existência.

A verdade é que até mesmo para um observador externo e imparcial da experiência dos ateus a respeito de Deus fica claro, pelas suas reações, que se dirigem a ele como a um ser existente – pois é impossível que alguém experimente emoções passionais a respeito de algo que não existe. Passionalidade implica necessariamente a existência de um sujeito a respeito de quem se é passivo. Que os ateus se exponham ao teste de tentar pensar na existência de Deus de forma não passional, admitindo que o mínimo resquício de passionalidade associado ao pensamento de Deus depõe a favor de Sua existência e expõe um preconceito e uma inclinação tendenciosa naquele que deseja negá-la. Esta é, então, e sempre será, a prova psicológica mais forte da existência de Deus: que sempre se pensa nele ou à ele se dirige como alguém que existe, e só é possível negar a sua existência indo contra este sentimento irrefutável.

Costuma-se pensar no ensinamento de Descartes a respeito da existência divina como sendo uma espécie de prova lógica montada a maneira de um silogismo: “penso em Deus como um ser existente, logo, Deus existe.” Porém, o significado verdadeiro do pensamento do filósofo se expressa da seguinte forma, psicológica: “Não consigo pensar em Deus como ser inexistente, logo ele existe.” Descartes, na verdade, mostrou aos homens o caminho para a certeza da existência de Deus através de um exame de consciência imparcial e criterioso. Mas para os que têm o hábito da dúvida, ou para aqueles que têm motivos para desejarem afirmar a não existência de Deus, seria preciso que se despojassem de suas motivações ocultas e adquirissem o costume da imparcialidade; em suma, que adotassem de forma irrestrita a norma socrática de se auto conhecerem. Portanto, a prova maior da existência de Deus é, a princípio, puramente existencial e psicológica. E é uma prova irrefutável para todos os que se auto examinarem de forma honesta.

Além disto, no instante mesmo em que alguém se dá conta que é impossível que pense em Deus dissociado da sua existência, também adquire a certeza da impossibilidade puramente racional desta convicção, pois sabe que não chegou a ela por meio da razão pura, através de um raciocínio qualquer com forma silogística. Uma vez que surge dentro de nós esta consciência da existência de Deus ela só pode ter sido implantada em nossa mente como ideia pura ou ter chegado a nós de forma intuitiva através das muitas provas que encontramos na natureza ao nosso redor, as quais, embora sem declararem objetivamente haverem sido produzidas por Deus, atestam claramente à nossa consciência não poderem existir independentes da sua ação ou criação. Estas são as duas únicas fontes primárias possíveis do reconhecimento psicológico da existência de Deus.

Ainda, como todos os homens que alcançam a maturidade tem tido várias oportunidades no transcurso de suas existências de dirigirem o seu pensamento ao ser supremo e constatarem que, quando isto acontece, não deixam nunca de fazê-lo como se referindo a um ser que possui a existência (o que se depreende da passionalidade de suas reações naqueles momentos), os homens nesta condição só podem negar a existência de Deus motivados por um desejo de viverem como se ele não existisse. Porém tal desejo só começa a existir a partir do momento em que este Deus se torna conhecido para eles em sua própria substância mais particularizada, ou seja, em sua personalidade, trazendo exigências que se chocam com aquilo que os homens querem ou não fazer. Neste momento as alternativas para os homens desobedientes são: 1) empenhar-se por negar ou desacreditar a veracidade dos testemunhos na criação deste Deus revelado, enganando-se a si mesmos; 2) negar a própria revelação da existência de Deus em suas consciências, o “cogito Dei, ergo Deos est” (o que se classifica como ateísmo); 3) não negar a revelação de suas consciências, mas sim a revelação legítima de Deus, procurando estabelecer um Deus de acordo com os seus próprios desejos, ou a partir das tradições da humanidade (religião natural), ou a partir de seus próprios conceitos (religião filosófica).

15.8.14

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Parte 2


2 - O Que é Deus?


Tendo estabelecido de forma plena a possibilidade da existência de Deus a partir da irrefutabilidade da nossa própria existência podemos prosseguir com o nosso inquérito passando para a seguinte questão em nível de importância nesta matéria, que é aquela que diz respeito a própria natureza de Deus. Não a que pergunta sobre as suas qualidades ou existência individual caso ele exista: “QUEM é Deus?", “QUAL o Seu nome?", mas aquela que se refere ao seu gênero ou aos seus atributos essenciais caso ele deva existir: "o QUE é, ou deveria ser, Deus?". A definição que diz respeito à primeira questão, a resposta para a pergunta “QUEM é?”, supõe, necessariamente, a existência de Deus; a definição que se relaciona com a segunda questão, a resposta para a pergunta “o QUE é?”, pode ser buscada sem se supor que Deus deva existir. Porém, a discriminação das qualidades de Deus, “QUEM” ele é, é secundária neste inquérito a respeito de sua existência quanto ao fato de Sua divindade, o “QUE” ele é, pois esta é estabelecida a partir de seus atributos, os quais pertencem ao seu gênero, e não a partir de suas qualidades, que pertencem à sua pessoa, como já veremos.

Todos os seres possuem qualidades, atributos e potência. A diferença entre umas e outros é que as qualidades que podemos possuir são antitéticas absolutas, quer dizer, cada uma delas divide-se em dois contrários que se excluem absolutamente e também dependem de uma escolha consciente por um dos dois - elas não nos são impostas pela natureza, pela vontade divina ou pelo destino. Tudo aquilo que pode ser resultado de uma escolha no âmbito das ações humanas são qualidades absolutamente antitéticas, e não admitem ser misturadas ou sintetizadas. Por exemplo, uma mesma ação pode conter elementos bons e ruins, mas os elementos bons são bons absolutamente, e os ruins são ruins absolutamente, embora a própria ação possa ser analisada e decomposta nas suas partes antitéticas. Tais qualidades são, por exemplo, a bondade e a maldade, a justiça e a injustiça, a impaciência e a longanimidade. Qualidades são coisas absolutas que adquirimos através das escolhas que fazemos e que não podem ser sintetizadas: não é possível misturar certa quantidade de bem com uma de mal e criar uma qualidade intermediária entre o bem e o mal. Já, quanto aos atributos, eles não são antitéticos, mas relativos, assim como, por exemplo, a altura não é o contrario da baixeza, mas é relativa a esta – alguém que é alto em relação a uma pessoa é também baixo em relação a uma outra; e, além disto, não temos poder completo de escolha sobre os nossos atributos - na maioria das vezes eles nos são impostos por Deus ou pela natureza. Alguns atributos, como a força física, podem ser adquiridos ou desenvolvidos. Outros, como a nossa altura, não podem. Os atributos podem ser objetos de uma síntese, já que são em si mesmos relativos. É possível, por exemplo, misturar água fria com água quente e produzir água morna. A dialética de Hegel comete este erro de querer sintetizar qualidades, sendo que isto somente pode ser realizado com atributos.

O ser consciente, em si mesmo, no seu núcleo substancial primordial composto de atributos dados por Deus e pela natureza, apresenta somente uma potencialidade para agir, e esta potencialidade, variando de uns para outros, é que determina a principal diferença entre os seres de uma mesma espécie. Quando, surgindo a oportunidade, o ser age fazendo escolhas adquire qualidades e estas se incorporam ao ser primordial formando a personalidade, que é o que subsiste se retirarmos os atributos exclusivamente físicos, adquiridos ou incorporados. Da interação do ser com o seu universo ele adquire ou são-lhe incorporados outros atributos, além dos originais. Alguns atributos são naturais, tais como a forma física que distingue os seres com respeito à raça, gênero, etc. Outros são contingentes, como a força física que alguém pode adquirir através da prática de exercícios. Se admitirmos que possuímos dois tipos de existência, um natural e outro supranatural, podemos conceder que enquanto permanecemos no plano físico os atributos que a nós estão incorporados pela vontade de Deus e através da natureza fazem parte da nossa substância temporariamente. A substância de um ser incorpora tudo o que existe naquele ser, de qualidades e atributos, num determinado momento. Já com respeito a Deus devemos admitir sua completude, com a coexistência sempiterna da potência, das qualidades e dos atributos na Sua substância imutável.

Examinando a história da humanidade do ponto de vista de suas crenças com respeito a divindade observa-se que, em todas as investigações filosóficas sobre a natureza de Deus que não se valem da observação direta da própria atuação divina ou de sua auto revelação mas procuram  desenvolver a questão através de uma investigação metafísica, os pesquisadores limitam-se a tentar encontrar uma resposta para as suas  indagações procurando estabelecer o conhecimento a respeito de Deus a partir de seus atributos possíveis, estabelecendo um padrão do que significa para nós a definição ou essência de Deus e deixando de lado a investigação de sua própria existência particular ou substância, pois as respostas para a primeira questão são mais fáceis de serem obtidas. Quanto a sua existência particular esta só pode ser apreendida a partir de uma revelação partindo da própria divindade ou observando-se de forma empírica a sua atuação no mundo. Sendo a pergunta a respeito da substância de Deus, aquela que se interroga sobre QUEM ele é, de um tipo cuja resposta se encontra além do âmbito de uma investigação filosófica como esta, que utiliza o raciocínio sintético, só podendo ser respondida analiticamente, devemos então continuar tentando encontrar as respostas que se relacionam com a outra questão, aquela que se mostra passível de ser respondida filosoficamente: "o QUE é Deus?" Como defini-lo com respeito aos seus atributos principais? Quais são os atributos que fazem com que o seu possuidor seja considerado como sendo Deus, necessariamente?

Primeiramente, devemos compreender que Deus não é deus por causa de sua substância, que envolve as suas qualidades, mas sim por causa de sua essência, que se refere somente aos seus atributos. Se desejarmos compreender Deus desde um ponto de vista filosófico devemos ter este fato bem claro em nossas mentes, ou seja, que a nossa investigação deve restringir-se à etapa que busca estabelecer os atributos (ou o atributo) indispensáveis para que um ser seja considerado como deus, e que a existência ou substância de Deus relaciona-se também com as qualidades de sua personalidade – se ele é bom ou mau, justo ou injusto, longânime ou impaciente, etc.

Kant não chegou a cometer um erro, porém desviou a questão do seu objetivo mais alcançável, já que se pode tentar compreender Deus racionalmente tanto procurando saber “QUEM” ele é quanto tentando estabelecer o “QUE” ele é. A primeira investigação está certamente além das limitações de nossa razão pura, e para avançarmos nela dependemos tanto da análise das manifestações de Deus no âmbito da realidade na qual existimos (se é que tais manifestações existem e podem ser encontradas), quanto de Suas revelações a respeito de Si mesmo. Mas a segunda investigação encaixa-se perfeitamente dentro de nossas possibilidades racionais.

Kant disse que preferia viver na ilha da razão a aventurar-se no oceano da metafísica. Com isto quis significar que poderia, utilizando somente a faculdade de sua razão pura, conhecer tudo o que houvesse na ilha, mas quanto ao que havia no oceano circundante não poderia ter a menor ideia a não ser uma sensação de desconfiança diante do desconhecido. Segundo ele pensava nossa razão, lançada no mar da especulação metafísica, é apenas uma humilde jangada incapaz de avançar em meio às ondas que se alteiam na escura noite oceânica. Melhor dito, é uma jangada que nem mesmo pode se fazer ao mar, tal a sua fragilidade para enfrentar o desafio além da praia. A única coisa que ela pode se permitir na posição onde se encontra atualmente é admitir que existe um oceano além de si, uma vez que chegou por si mesma à conclusão de se achar em uma ilha. Pois uma ilha sempre pressupõe a existência de um oceano ao seu redor. Kant provou ou tentou provar que não dispomos de meios cognitivos para ir além da realidade em que vivemos confinados, havendo estudado o funcionamento da razão humana e de seus instrumentos mais poderosos. A principal conseqüência da teoria kantiana da razão pura é que Deus estando fora da ilha desta razão, habitando no oceano desconhecido, não pode ser estudado por aquela de maneira alguma, não pode tornar-se jamais um de seus objetos. Portanto, qualquer especulação a respeito da natureza do Ser Supremo não tem validade alguma, pois Deus está fora do alcance da razão do ser humano. Esta é a mais importante afirmação do kantismo, dadas as conseqüências que dela se seguem.  No entanto Kant foi coerente ao afirmar dentro do contexto de sua teoria que também não podemos fazer nenhuma afirmação absoluta a respeito da inexistência de Deus. Ou seja, esta seria para nós uma questão eternamente em aberto. Uma vez que, de acordo com o próprio Kant, estamos completamente circunscritos em uma ilha e existe um oceano além deste confinamento, é possível que lá, oculto em algum lugar, protegido das nossas especulações pela escuridão das ondas altaneiras, Deus se encontre presente, inalcançável por nós para toda a eternidade.

O primeiro problema que surge com a teoria da razão pura kantiana com relação ao conhecimento da existência de Deus é esta contradição, que se torna evidente, entre uma faculdade tão limitada a ponto de não poder formar nenhum juízo de valor metafísico e a afirmação que ela faz da existência de um território além do seu alcance. Se a razão é assim tão absolutamente limitada ao confinamento em sua própria ilha como ela pôde chegar a afirmar a existência, além do seu alcance, de uma realidade metafísica - como ela pôde ver o mar que a convenceu de ser uma simples ilha? Como podemos afirmar a simples existência de algo que está absolutamente fora de nosso alcance cognitivo, mesmo fazendo a ressalva que não nos é possível dar deste algo a mais elementar descrição? Se podemos fazê-lo então fica comprovado que este algo está, pelo menos até certo ponto ainda não delimitado, disponível a investigação com o uso de nossas faculdades mentais. Em uma realidade tão delimitada como é a da teoria kantiana do conhecimento a simples afirmação da possibilidade da existência de um universo metafísico além daquele que se pode conhecer surge do nada absoluto, como a mais metafísica das especulações. Tal afirmação aparece de maneira tão misteriosa a ponto de só se poder formar com ela um paralelo na teoria de que o universo surgiu também abruptamente ex nihilo. De acordo com suas próprias conclusões Kant não tinha nenhuma base para afirmar que a razão se encontra em uma ilha, pressupondo a existência de um oceano ao seu redor. Esta é a primeira contradição do kantismo.

O segundo grande problema com a teoria kantiana do conhecimento é que Kant tenta fazer-nos aceitar a premissa de que a razão, no seu questionamento sobre a existência de Deus, dirige-se exclusivamente para uma região inacessível aos seus instrumentos, a da especulação metafísica de um universo além do seu alcance. Esta afirmação, como vimos acima, não tem base dentro da lógica kantiana de uma razão pura limitada. A verdade é que a razão humana não tem nenhum direito de por si mesma fazer qualquer afirmação especulativa, ou de buscar qualquer conhecimento além da área que está ao seu alcance – o que Kant também afirma, e faz de tal afirmação a própria razão de ser de suas teorias. Mas ele foi sofismático ao buscar arduamente comprovar uma premissa verdadeira, a da limitação da razão, e depois de estabelecida utilizá-la para apresentar uma falsa conclusão. Tal conclusão é de que as afirmações da razão a respeito de questões metafísicas são todas falsas, pois para obtê-las ela se aventura em um campo onde não tem nenhuma condição de obter qualquer conhecimento. Com isto Kant desvia nossa atenção do verdadeiro rumo que nossos questionamentos devem tomar e tem tradicionalmente tomado para comprovar racionalmente a existência divina. Pois na verdade a razão não busca nem deve buscar tal comprovação no oceano da metafísica, mas sim no território perfeitamente explorável da ilha em que está confinada. Todas as afirmações importantes a respeito de Deus que já foram feitas apoiaram-se em evidências encontradas dentro do universo em que vivemos, seja observando-se o mundo físico ou o psicológico. Portanto a nossa razão tem todo o direito e, ainda mais, o dever de percorrer sua própria ilha com os olhos abertos a procura de qualquer evidência da existência do ser supremo.

O terceiro problema que surge com a teoria kantiana da razão e estreitamente relacionado com os anteriores é aquele que decorre de uma afirmação que o próprio Kant não faz mas deixa implícita, porque se tal afirmação não estivesse pressuposta em todas as suas conclusões elas não teriam valor algum. Ao estabelecer limites para a capacidade de nossa faculdade de conhecimento e ao colocar o conhecimento da existência de Deus fora destes limites Kant pressupõe e até mesmo afirma que nós estamos, inexoravelmente, impossibilitados de comprovar esta existência. Entretanto, em conveniência com as suas pressuposições, deixa de fazer a admissão fundamental de que caso Deus exista, mesmo estando fora do âmbito de nossas pesquisas racionais (já que não podemos romper a barreira das limitações da nossa razão para chegar onde ele se encontra), nós mesmos não estamos fora do alcance da Sua capacidade de comunicar-se conosco e, por este motivo, podemos conhecê-lo sempre que ele se quiser revelar a nós. Deus não está ao nosso alcance mas nós estamos ao alcance dele. Kant, porém, nem mesmo levou em consideração esta possibilidade. Se Deus é deus para nós e temos alguma importância para ele podemos ter certeza de que ele pode estabelecer comunicação conosco sempre que assim desejar, habilitando-nos para conhecê-lo e a Sua realidade metafísica na extensão em que julgar tal conhecimento conveniente aos seus propósitos.

Kant afirmou e provou que não podemos saber por nós mesmos quem é Deus e fechou a questão, como se a nossa investigação a respeito de Deus se limitasse à busca de sua personalidade particular, quer dizer, de suas qualidades, e não pudesse dirigir-se para a determinação de Seus atributos possíveis. Indo por nossa conta nesta nova direção podemos perceber facilmente que sendo considerado como Deus um ser que possui atributos (ou algum atributo decisivo) superiores aos de todos os outros seres que habitam o mesmo universo, os quais seres são afetados por esta superioridade devendo assumir alguma atitude correspondente a sua inferioridade, é impossível que Deus seja deus em relação a si mesmo, por maior que seja o seu poder. Logo, Deus não é deus, atualmente, para si mesmo, mas sim para os outros. Percebe-se então que a premissa número um em relação ao conhecimento de Deus nos diz que ele não é Deus para os outros em razão de sua substância ou existência, mas sim de sua essência, a qual é formada por seus atributos. E a premissa número dois é a que nos diz que ele não é Deus para si mesmo atualmente, somente para os outros seres.

Em seguida, o que se necessita primeiramente no prosseguimento de nosso inquérito é de uma definição satisfatória do ser de Deus conforme os seus atributos – a sua própria essência. E isto em relação aos outros seres que habitam o mesmo universo.  A definição mais corriqueira, adotada pela imensa maioria das pessoas, quanto ao que Deus é ou deveria ser é aquela que o vê como o imutável e onisciente criador de todas as coisas. Todas estas palavras se referem a qualidades. Tais características, porém, podem ou não fazer parte da definição divina e despertam a nossa desmedida admiração – mas não são a característica, ou atributo, que realmente faz com que um ser seja considerado como deus num universo onde existem outros seres. O que, na verdade, num tal universo caracteriza plenamente um ser como deus é a dimensão do seu poder. E o ser mais poderoso é sem dúvida aquele que tem mais condições de conservar a própria existência e ao mesmo tempo decidir sobre a conservação da existência dos outros seres que habitam o mesmo universo. De tal ser todos estão na dependência, a tal ser todos devem prestar reverência e serviço, condições que só podem ser descritas pela palavra grega “latria” (serviço divino). Uma vez que a grande maravilha é a própria existência, a suprema qualidade de qualquer ser é a de garantir a sua própria existência e também de decidir sobre a existência dos outros seres. Aquele que possui estas qualidades é quem merece, sem a menor sombra de dúvida, que lhe seja conferida a dignidade de ser considerado Deus.

Imaginemos um ser o qual possua vários atributos admiráveis, tais como a suprema onisciência, a maior beleza, insuperável grandeza e bondade, e muitos outros semelhantes, mas que não tenha controle absoluto sobre a conservação de sua própria existência. Ou seja, que haja um outro ser o qual, seja por alguma característica própria ou por estar no comando de um exército que supere o primeiro ser em poder pela união de seus membros, possa decidir sobre a continuidade da sua existência, podendo eliminá-la se assim o desejar. Ou se isto não for possível (caso todos os seres naquele universo fossem eternos e indestrutíveis) torná-la a mais sofredora e limitada possível, condição semelhante ao aniquilamento, uma vez que a uma vida de intenso e insopitável sofrimento os seres humanos racionais quase sempre preferem a própria morte. O primeiro ser deveria então considerar o segundo como sendo o seu verdadeiro deus, reverenciando-o e servindo-o com o intuito de garantir a continuidade daquilo que é para cada um a coisa mais importante: a própria existência livre de dor insuportável. Desta forma não podemos considerar como deus alguém que tenha a continuidade da sua existência no arbítrio de um outro ser. O último é que teria de ser, verdadeiramente, considerado como sendo deus do primeiro.

Logo, a definição correta de Deus é a seguinte: "Deus é aquele que tem mais poder sobre a sua própria existência e a dos outros". E nem mesmo é necessário que este poder que ele tem sobre a sua própria existência se estenda ao ponto de garanti-la como um bem eterno para que seja considerado como Deus. Para a consecução deste fim é suficiente que em determinado momento e circunstância ele possua o poder absoluto para decidir sobre a continuidade da sua própria existência e da dos outros seres (também a dos outros, pois se o poder que ele tem se limitasse ao âmbito da sua própria existência seria uma vantagem inestimável para ele porém ninguém se sentiria obrigado a prestar-lhe reverência e culto). Ele criou os outros seres justamente porque desejou ser deus para os outros – atualmente. Ele não é deus para Si mesmo, uma vez que não pode temer a Si mesmo, e um deus deve ser temido. Como diríamos então que Deus teme a Si mesmo, uma vez que o inferior teme o superior, e para que Deus a si mesmo se temesse deveríamos admitir que uma parte de Sua personalidade teria de ser inferior à outra?

Sendo assim é impossível que Deus não exista. Pois não havendo ninguém mais poderoso o ditador que decide sobre a vida de um povo também será o seu deus. Mas, certamente, havendo alguém acima dele e que tenha poder sobre a sua existência, e também avalize as suas decisões sobre a vida das pessoas que estão sob o seu poder, então aquele será o deus real tanto de um como de outros.

Desta forma, chegamos a conclusão que o sentimento mais básico de um ser em relação aquele que considera como sendo o seu deus tem de ser o temor que se relaciona com a possibilidade da perda da própria existência. Se a existência é a coisa mais maravilhosa e o que devemos preservar em primeiro lugar, e aquilo que devemos temer acima de tudo é a sua perda, então este temor se estende automaticamente aquele ser que detém o poder absoluto sobre a continuidade mesma daquela existência. No universo que conhecemos existem seres bons e maus em variados graus entre estas duas qualidades. Se alguém fosse considerado deus por possuir qualidades e atributos admiráveis porém o seu poder fosse limitado em relação aos outros seres, ele sempre teria a sua existência ameaçada por aqueles que fossem dotados de más intenções.

Além disto percebe-se que na definição de deus além de ele dever ser aquele que comanda mais poder sobre a sua própria existência e a dos outros seres, também deve ser-lhe acrescentado o atributo de poder ser propiciado por aqueles que podem ter a sua existência eliminada ou limitada por ele - pois se não fosse assim ele deveria ser considerado apenas como uma fonte inesgotável de temor, e este sentimento teria de ser a única forma de relacionamento dos outros seres com ele. Porém, junto com o temor devido ao ser que é deus, para que ele mereça este epíteto, deve estar acoplada a possibilidade de que possa ser propiciado com vistas a assegurar aqueles que o propiciam a certeza de continuarem existindo baseados exclusivamente na eficácia de suas propiciações. Desta forma, este ser que é merecedor de temor tem de possuir, para ser considerado deus, os atributos da consciência e da inteligência, pois se assim não fosse poderíamos ter de considerar como deus uma força qualquer da natureza – tais como um vulcão ou uma fera muito perigosa. Mas, no primeiro caso, tratando-se de seres inanimados, de que maneira poderíamos propiciá-los para que nos fossem favoráveis se não possuem consciência? E no segundo, como acreditaríamos que uma fera irracional poderia ser propiciada? Como confiaríamos na sua boa vontade para conosco? Porém, tratando-se de um ser consciente dotado de inteligência é possível que conheçamos o suficiente da sua personalidade para termos certeza de que ele saberá corresponder a nossas atitudes que serão sempre baseadas naquilo que ele prescrever para nós, sendo misericordioso e permitindo-nos continuar existindo.

Tal é a base mais sólida do nosso relacionamento com o ser supremo, pois é nesta base, unicamente, do temor e nas atitudes que este temor prescreve que se assenta a nossa consideração da sua pessoa como sendo Deus. A partir desta base o relacionamento se constrói sobre as qualidades particulares daquele ser. Nós o amaremos se ele for bom – mas não poderemos exigir que o seja. Se assim o desejar poderá ser mau sem deixar de ser Deus. O mesmo acontecerá com respeito às outras qualidades antitéticas absolutas que poderão fazer parte da sua personalidade: justiça e injustiça, compaixão e impiedade, ira e longanimidade... etc.

Descobrimos então que ao atributo de ser temível corresponde a atitude de temor respeitoso naqueles que temem pela continuidade de sua existência, e ao atributo da inteligência corresponde a atitude que leva o nome de propiciação, ou latria, e a qualidade de ser bondoso, misericordioso e sábio corresponde a atitude de adoração reverente. Todos os nossos sentimentos e atitudes em relação à Deus tem como base aquilo que ele é nos seus atributos e nas suas qualidades. Com respeito aos primeiros nossa principal atitude para com ele tem de ser o temor, uma vez que seus atributos fazem dele o ser mais poderoso do universo. Temos de esforçar-nos por descobrir tudo o que pudermos a respeito de sua personalidade para servi-lo da forma que lhe for mais agradável. Com respeito as suas qualidades nossas atitudes estarão relacionadas ao que elas mesmas forem. Se ele for bondoso para conosco, por exemplo, isto despertará a nossa gratidão, e se nos tratar de forma injusta mesmo assim não sentiremos revolta em nosso interior com relação á Sua pessoa, pois o temor absoluto que encherá a nossa alma relativamente aos seus atributos não permitirá o surgimento de sentimentos daquela espécie. Porém, neste caso, não o amaremos, pois só amamos aquilo que desejamos preservar e não temos este sentimento em relação a um poder que nos ameaça constantemente. A medida do seu poder além daquele que possui sobre a continuidade de nossas existências determinará a extensão da nossa admiração por ele, gerando em nossas consciências o sentimento chamado “reverência”. E assim por diante.

Neste capítulo tratou-se do QUE é Deus, sem nos desviarmos para a questão de QUEM ele é.

Deus Existe? O Que e Quem é Ele? - Parte 1


1 - Deus Existe? É Possível ou Impossível que Deus Exista?



a) Dificuldade que os ateus têm para aceitarem a existência de Deus

A grande dificuldade que a maioria das pessoas que não crêem tem com respeito a aceitar a existência de um Deus pessoal, um Deus que tenha uma personalidade e que possa fazer escolhas (não um Deus impessoal, sem personalidade e que não age por livre-arbítrio), não se refere simplesmente ao fato de se poder saber com certeza se ele existe ou não, mas repousa na dúvida que elas têm relativamente a possibilidade mesma da sua existência. As pessoas descrentes não concedem, em primeira instância, que seja racionalmente admissível a possibilidade da existência de um Deus assim, pois consideram tal fato como sendo maravilhoso demais para ser inserido dentro da realidade que reconhecem como normal. Mas estas mesmas pessoas concedem com relativa facilidade a possibilidade da existência de um Deus impessoal, alguma espécie de força universal ou DNA cósmico, da qual se originam todos os fenômenos da existência e que permeia tudo o que existe. Neste texto estaremos tratando de provar a possibilidade da existência de um Deus pessoal, um Deus que pensa de modo particular e cria o universo de acordo com os seus desígnios pessoais. Uma vez que se admitisse não haver nada de impossível ou miraculoso na possibilidade da sua existência, uma vez que não se pudesse negar esta possibilidade, tal fato tornaria a crença nele uma simples questão de analisar as evidências que temos para admiti-la. Ninguém ousaria criticar alguém que estivesse procurando elefantes se eles não fossem conhecidos porém houvesse relatos a respeito de sua existência, uma vez que ninguém se atreveria a negar a simples possibilidade de que eles existissem.

b) A existência existe e é eterna

Para nós seres humanos o grande milagre é a própria existência, e além disto assombra-nos, dentro dela, a existência de um ser que pensa – nós mesmos. Não há nada que nos pareça mais maravilhoso do que este fato, embora raramente dediquemos ao assunto atenção plena para lhe investigarmos os motivos. E isto é assim porque sentimos ser a questão muito complexa. Tal fato permanece, no entanto, continuamente presente na consciência do ser humano como a mais metafísica e irrespondível das perguntas: como é possível algo existir? Considerando-se que para tudo deve haver uma causa, e uma vez que toda causa é anterior ao seu efeito ou conseqüência, qual seria a causa da própria existência, uma vez que anteriormente a ela nada poderia existir? Se a existência veio a ser em um universo onde absolutamente não existia anteriormente então tal acontecimento pode ser considerado como o maior dos milagres. Porém a existência não pode ter vindo a ser através de um milagre, pois o próprio milagre consiste num acontecimento que ultrapassa a ordem natural, e onde nada existe também não existe uma ordem natural para ser ultrapassada. Nem mesmo como um milagre a existência poderia ter vindo a ser onde anteriormente nada havia. Ex nihilo nihil. Do nada, nada vem. Quase não podemos suportar a conclusão que destas premissas se extrai: que a existência sempre esteve presente. Tal pensamento nos parece mais maravilhoso do que aquele que se interroga sobre a própria origem de uma existência já dada. Devemos então aceitar que há alguma coisa que existe sem causa e que sempre esteve presente, ou seja, a própria existência? Esta é uma pergunta que só pode ser respondida afirmativamente, do contrário nos defrontaríamos com a necessidade de provar a nós mesmos a nossa própria inexistência. Mas aquilo que existe sem causa devemos também conceder a imortalidade, pois o que existe sem causa e sempre existiu como poderia deixar de existir? Logo, tem sentido o título deste parágrafo: a existência existe e é eterna.

Eis, portanto, a razão de nosso assombro.

c) A consciência coexiste com a matéria e a energia

Quando nos referimos ao milagre da existência não estamos focalizando aquilo que reconhecemos como os seres vivos, menos ainda os seres dotados de consciência ou inteligência, mas referimo-nos a existência em si mesma, em oposição ao nada. Porque algo deveria existir? Somente o vazio, o nada absoluto, o não-ser, a ausência de tempo e espaço, o inconcebível a não ser como conceito tem direito a serem imaginados quando nos dispomos a considerar o que deveria ou não haver. Mas se admitimos que algo sempre existiu, ainda que no estado mais primitivo possível (ou seja, a matéria bruta e/ou a própria energia), então, a partir desta admissão, podemos desenvolver quantas teorias quisermos para derivar deste substrato o surgimento da vida e da consciência – mas só podemos fazê-lo por que já estamos aqui. Porém, a verdade é que não se pode derivar a consciência da matéria bruta energizada, por mais teorias que se inventem – aqui não existe nenhum elo perdido. Logo, além de matéria e energia devemos colocar junto, já de saída, a própria consciência. Estes três itens, portanto, sempre existiram: matéria, energia e consciência.

d) A vida biológica é posterior à consciência

Uma vez que não se pode derivar a consciência da matéria e da energia, mas a enxergamos sempre associada à vida que conhecemos, pensamos ser a vida no nível biológico a matriz da consciência, o que nos leva a buscar uma teoria sobre o surgimento deste tipo de vida associado com o surgimento da própria consciência. Ou seja, acreditamos que vida biológica e consciência são fenômenos concomitantes ou, no máximo, que a consciência não passa de um epifenômeno da vida material. A conseqüência desta maneira de ver é o surgimento de uma elaborada teoria da evolução não apenas dos organismos físicos mas da própria consciência. Deve-se ter em mente que a teoria da evolução de Darwin é bem mais ambiciosa do que se percebe, por misturar o conceito de evolução da vida biológica com o conceito de evolução da consciência, e preocupando-se em demonstrar a validade do primeiro faz com que acreditemos que o segundo seja automaticamente validado cada vez que atinge algum de seus objetivos para aquele. Portanto a teoria de Darwin não é como geralmente se pensa simplesmente uma teoria a respeito da evolução de organismos biológicos, mas resulta ser muito mais ambiciosa, pois procura explicar o surgimento e a evolução da própria consciência! O sofisma ou paralogismo embutido nesta teoria consiste em fazer-nos crer que a consciência é um efeito do surgimento de formas simples de vida que evolui concomitantemente com os organismos, e que o encontro de elos entre as formas inferiores e superiores destes organismos supre os elos que faltam entre as formas superiores e inferiores de consciência. Uma teoria da evolução verdadeira deveria mostrar a vida biológica surgindo da consciência, e não o contrário.

Porém a verdade é que aquilo que chamamos de "vida," ou seja, o que se apresenta como organismos vivos, é apenas uma funcionalidade da consciência. A própria vida em si mesma é apenas consciência pura.

e) Prova irrefutável da possibilidade da existência divina

A matéria está presente, a energia está presente, e muito mais do que isto: somos seres amplamente conscientes e racionais. Se a coisa é assim e se a própria existência já dada é o fato mais assombroso possível, então as formas que esta existência possa assumir já não parecem, em comparação, tão maravilhosas ou inadmissíveis. Num universo onde é irrefutável a existência de algo eterno que sempre foi e sempre será e onde coexistem a vida e a consciência, nada que se refira as formas desta existência se mostrará para a nossa mente como impossível. Logo, se eu existo Deus também pode existir; a prova da possibilidade da existência divina é a minha própria existência. A grande diferença entre mim e Deus não é por a sua existência ser mais maravilhosa do que a minha, mas é apenas uma diferença de grau. E sabemos que as diferenças de grau entre os seres que existem podem ser tremendas, como aquelas que há entre os seres humanos e os vírus mais simples. Formas de vida como estas, que nunca tiveram consciência da existência dos seres humanos, se acaso pudessem pensar nisto teriam direito de colocar em dúvida esta possibilidade? Pois somos superiores a elas apenas em grau de complexidade, tanto biológica quanto psicológica (sem entrar na questão da existência do espírito humano). Se há esta diferença tão grande de grau entre os seres humanos de um lado e os vírus e bactérias de outro, mas ainda assim ambos têm direito a existência, porque então duvidar da possibilidade da existência de um ser que está, metaforicamente falando, para a dos homens como a deste está para a das formas mais simples de vida?

A importância desta constatação (que a existência de Deus é irrefutavelmente possível) reside no fato que para a grande maioria das pessoas que não crêem em Deus o maior empecilho para a aquisição desta crença - puramente psicológico - é que elas não conseguem conceber esta possibilidade. Mas a verdade é que para chegarmos a tanto deveríamos duvidar primeiramente da possibilidade da nossa própria existência. Por este motivo Descartes, após provar para si mesmo irrefutavelmente a sua própria existência, como uma conseqüência necessária desta conclusão, ocupou-se em provar logicamente a existência de Deus. Já que não podemos duvidar da nossa própria existência, pois no instante mesmo em que a tanto nos atrevemos se nos apresenta o silogismo cartesiano (penso, logo existo), transferimos então aquela duvida para a existência de Deus. Logo, duvidar da existência de Deus não é, neste sentido de desconfiança do maravilhoso, mais do que duvidar de nossa própria existência, uma maneira de manter a suspeita e o assombro sem precisar enfrentar a inevitabilidade do “cogito, ergo sum”.


Fim da primeira parte

14.8.14

Deus e o Pecado

Quando alguém afirma que nada é pecado não está, de maneira alguma, negando a existência de Deus. Pelo contrário, negar a ocorrência atual do pecado é o mesmo que afirmar a existência de Deus pois o pecado é a transgressão das leis de Deus. Negar que uma ação qualquer seja pecaminosa equivale a afirmar que os atos correspondentes a ela não se constituem em transgressões deste tipo – afirmação equivalente a da existência de Deus e Suas leis.

Se os que assim atestam a existência divina não quisessem fazê-lo deveriam simplesmente afirmar que Deus não existe ao invés de negar que algo possa ser chamado de pecado – o que só tem sentido em relação a Deus. Pois se Deus não existe também não existe pecado e a discussão a respeito de algo ser ou não pecado não faz nenhum sentido.

Porém, o fato de haverem pessoas que negam a existência do pecado afirmando ao mesmo tempo a de Deus revela apenas o caráter destas pessoas, as quais desejariam que Deus não existisse para poderem viver de acordo com suas inclinações contrárias a natureza e a vontade do ser que os criou.

Deus e o Mal na Criação

Pessoas descrentes costumam fazer-se perguntas a respeito da maneira como Deus deveria agir em determinadas situações, colocando a pré-condição de que Ele deveria necessariamente, para ter direito a existência, agir de uma determinada maneira. Caso não parecesse agir daquela maneira pré-determinada por eles então Ele não seria Deus ou, simplesmente, não existiria. Seu argumento, colocado na forma de um silogismo clássico, fica mais ou menos assim:

1) Se Deus existisse realmente, Ele teria criado o mundo e o ser humano de tal e tal maneira;
2) O mundo e o ser humano não são de tal e tal maneira;
3) Logo, Deus não existe.

Ou o argumento pode referir-se diretamente à personalidade de Deus, afirmando que para que Ele fosse Deus deveria agir de acordo com certos padrões. O argumento apresenta-se, silogisticamente, mais ou menos da seguinte forma:

1) Se Deus é bom, então, Ele não deveria criar um Universo onde o mal existe;
2) O mal existe no Universo, incontestavelmente;
3) Logo, Deus é mau, ou Ele não é onipotente.

Estes argumentos são falhos desde o inicio porque limitam Deus, impondo-lhe que aja dentro dos limites colocados pelos homens criados por Ele, determinando que para ser reconhecido como Deus deva ser bom de acordo com os padrões daquilo que eles acreditam que seja bom. Mas, e daí se Deus fosse mau? Em que isto diminuiria a sua divindade? Devemos é agradecer-lhe por ser bom, e sentirmo-nos aliviados por isto. A definição de divindade não está, na sua essência, ligada ao bem absoluto. O mal como forma de agir, como possibilidade, sempre existiu, sendo coetâneo com a existência do próprio Deus. No entanto, esta existência não é real a não ser como resultado de qualquer ação. Todo ser, inclusive o próprio Deus, deve fazer por si próprio uma escolha a respeito de suas ações, se elas serão determinadas por bons ou maus motivos. Afirmar o contrário seria negar o livre-arbítrio de Deus, o que somente faz sentido se o Deus em questão for apenas uma certa energia ou tendência universal, como o Deus imaginado pelo filósofo Espinoza. Pode-se afirmar que Deus criou a possibilidade do mal ser praticado por outros seres além dele mesmo no momento em que criou os seres dotados de livre-arbítrio. Portanto, Deus não criou o mal, mas cada ser o cria quando decide agir de forma maligna. O mal em si não existe, ele é apenas uma conseqüência de ações conscientes.

O fato de Deus dever decidir sobre criar o universo com ou sem a presença do mal somente prova que Ele possui ilimitado livre-arbítrio. Mas os descrentes pretendem limitar Deus afirmando que Ele só poderia, para ser Deus, criar um universo sem a presença do mal. Entretanto, uma vez que Ele teve de fazer uma escolha é óbvio que isto significa que Ele poderia criar o universo daquela forma, com o mal presente, sem deixar de ser Deus. Ou Ele deixaria de sê-lo no instante em que o fizesse? Conforme o raciocínio dos ateus a coisa se passaria mais ou menos assim. Se Deus não tivesse que fazer uma escolha isto significaria que Ele seria pré-determinado e limitado, uma vez que sempre existiria e continuaria existindo a possibilidade de o mundo ser criado com a presença do mal. Neste caso Ele não possuiria o livre-arbítrio. Entretanto Deus não criou um universo cheio de maldade e para que a maldade fosse conspícua nele, que é o que os descrentes estão dando a entender com seus argumentos. Mas Ele o criou habitado por uma classe de seres conscientes, dotados de livre-arbítrio.

O mal é uma forma de agir e suas conseqüências são vistas como malignas. O mal que existe no universo não é o próprio mal em si, o qual é apenas uma forma de agir e não foi criado por Deus, mas sim as suas conseqüências, que são malignas. Estas conseqüências existem porque Deus criou seres humanos a sua semelhança, possuidores de livre-arbítrio, os quais escolheram agir de forma errada e ocasionaram situações desagradáveis. Para que o mal não existisse Deus deveria ter criado os homens desprovidos de livre-arbítrio, ou melhor, providos de um determinismo para fazer o bem, da mesma forma como um escritor humano poderia escrever um livro no qual os seus personagens só praticassem o bem - pois seria ele mesmo quem lhes prescreveria as falas e as ações. Neste caso, as criaturas de Deus seriam apenas personagens. Mas não era esta a sua intenção, e devemos agradecer-lhe por isto. Acaso algum ateu preferiria ter sido criado sem livre-arbítrio? Parece que é isto o que eles gostariam que houvesse acontecido, porque esta é a única maneira de garantir que o mal não seria praticado no mundo. Mesmo assim estes seres pré-determinados a fazerem o bem deveriam necessariamente habitar um universo onde não houvesse nenhum tipo de escassez, para que todos os seus desejos e necessidades fossem atendidos sem restrição; porque não sendo assim, e estando eles destinados a só fazerem o bem, surgiriam situações em que dois ou mais deles deveriam decidir sobre a questão de quem possuiria um determinado recurso necessário, e estando-lhes interdita a luta pelo recurso em questão alguém deveria renunciar em favor dos outros, o que lhe ocasionaria sofrimento. E eis aí o mal mostrando a sua face na superfície de um mundo onde só deveria haver o bem!  Devemos, portanto, agradecer a Deus por ter-nos criado como somos e queixarmo-nos de nós mesmos pela maldade que existe no universo.

Entretanto Deus criou alguns seres sem o livre-arbítrio, que são os animais. No seu lugar dotou-os de instinto, de acordo com o qual eles executam todas as suas ações. Observando-os podemos ver que o mal não deixa de existir porque eles vivem de forma tão determinada, mas o sofrimento faz parte de suas existências de forma até mais intensa do que o que acontece entre os seres humanos dotados de livre-arbítrio. Dir-se-á que tal fato se dá em decorrência da luta pela sobrevivência e que Deus deveria ter criado um universo onde houvesse abundância de recursos para o desfrute de suas criaturas, sem escassez e sem necessidade de confrontos, e onde o alimento de um não fosse a própria carne do outro. Ainda assim, pelo que conhecemos da natureza humana, podemos acreditar que outros fatores além da escassez levariam as pessoas a se confrontarem, principalmente a questão do orgulho e da desobediência, a qual, de acordo com a própria Bíblia, foi a causa da revolta dos anjos contra Deus, como Milton tão bem expressou em seu épico "O Paraíso Perdido", e também, ainda de acordo com a Bíblia, a causa da queda de Adão e Eva.

Na verdade os argumentos dos ateus na sua forma clássica não se dirigem a negação da existência de Deus, o que se percebe claramente quando os estudamos com a devida atenção. O que eles estão reivindicando, na verdade, é que Deus não é justo por haver criado um universo onde não existe justiça perfeita. E, sendo assim eles não teriam que lhe obedecer automaticamente nem adorá-lo. Julgam-no um déspota onipotente. Os ateus reivindicam que

1) Deus para ser Deus e merecer a sua obediência e adoração deveria ter criado um universo onde os seres fossem absolutamente pré-determinados a só fazerem o bem, e onde não houvesse a mínima escassez de nenhum recurso destinado a satisfazer todos os seus desejos; pelo contrário, onde houvesse abundância destes recursos. Ou que

2) Havendo criado um universo onde suas criaturas possuíssem o livre-arbítrio e onde os recursos para a satisfação de todas as suas vontades não fossem ilimitados, qualquer mal que naturalmente se seguisse de tal arranjo e que não fosse conseqüência de causas naturais (catástrofes e acidentes, por exemplo) fosse imediatamente julgado e corrigido por Ele. Ou seja, um universo onde a justiça divina fosse conspícua e se seguisse sem demora a injustiça cometida.

Como, relativamente ao ponto 1, é possível afirmar que nem mesmo os ateus mais ferrenhos gostariam de terem sido criados como seres absolutamente determinados a só fazerem o bem, pois sabem avaliar, tanto quanto aqueles que louvam a Deus por tal coisa, o valor de seu  próprio livre-arbítrio, concluímos que suas questões contra a admissão da existência de Deus tem a ver com o fato de eles o julgarem injusto por causa do mal que existe no universo, por pensarem que Ele não lida com este mal da forma adequada e, portanto, não pode ser aceito como seu Deus.

Raciocinam assim: "Eu, se fosse Deus, lidaria com o problema do mal de tal e tal maneira. É óbvio que Deus lida com o problema do mal, se é que o faz, de forma bem inferior ao que eu mesmo o faria. Portanto eu sou mais justo do que Deus. Logo, não devo considerá-lo como sendo Deus, se é que Ele é mesmo Deus, o que, se for verdade, só é possível por causa do seu poder superior (contra o qual estou justificado em me rebelar se surgir uma oportunidade).

Os descrentes não levam em consideração a maneira de Deus agir, fazendo uma avaliação superficial da sua atuação para poderem desqualificá-lo como Deus. Não se perguntam se Ele tem um plano e um propósito com este universo sendo da maneira como é. São imediatistas, querem a perfeição no presente para poderem gozar da criação sem problemas. Exigem que Deus os tenha criado (coisa que Ele não era obrigado por nada a fazer) para uma vida amena e prazerosa num universo sem a presença do mal ou onde houvesse justiça imediata e perfeita. Neste seu universo ideal eles mesmos decidiriam o que fosse melhor para si, criariam suas próprias leis e fariam o que lhes aprouvesse. E Deus a tudo condescenderia, seu único papel tendo sido o de criá-los para uma existência agradável.

11.8.14

Fotografia Misteriosa

Esta é uma fotografia que foi tirada no Uruguai, a qual mostra o prédio de uma igreja que estava destinado a ser demolido para dar lugar a construção de uma nova igreja. A foto foi tirada com a intenção de manter uma recordação da antiga igreja e com este propósito todos os membros foram reunidos em frente ao prédio. A imagem revelada mostrou uma figura em tamanho maior que o normal, superposta as pessoas, com os braços levantados como se estivesse abençoando a congregação. Esta foto foi tirada em uma época na qual não era possível fazer manipulações em computador, as famosas alterações no Photoshop. Naturalmente, existem outras possibilidades para a imagem, como superposição. A foto foi trazida do Uruguai por uma cristã já idosa que frequentava a igreja em questão e veio morar no Brasil.

10.8.14

Teste Bíblico - A Arca do Testemhunho

Aperte o botão com a resposta correta:


1- Qual era a madeira com a qual foi construida a arca do testemunho?

Gôfer.
Acácia.
Cedro.


2- Quais eram, respectivamente, o comprimento, a largura e a altura da arca em côvados (1 côvado=44,4cm)?

8,5; 4,5; 4,5.
4,5; 2,5; 2,5.
2,5; 1,5; 1,5.


3- Qual o material que recobria a madeira da arca, por dentro e por fora?

Prata.
Ouro.
Pedras preciosas.


4- Como a arca era carregada, quando os israelitas iam de um lugar para outro?

Por varais laterais.
Sobre um palanque.
Em um carro de bois.


5- A arca era fechada encima por um propiciatório (tampa onde se colocavam as ofertas) feito de ouro batido. O que havia sobre ele?

Um candelabro.
Os pães da proposição.
Dois querubins.


6- Deus falava com Moisés vindo a ele na arca do testemunho. De onde, especificamente, Deus falava?

De sobre a arca.
De dentro da arca.
De sob a arca.


7- Em que lugar do tabernáculo abrigava-se a arca do testemunho?

No átrio exterior.
No lugar santo.
No santo dos santos.


8- Quais os nomes dos homens que fizeram a arca do testemunho, conforme as especificações dadas por Deus a Moisés?

Nadabe e Abiú.
Bezalel e Aoliabe.
Mali e Muzi.


9- Qual deveria ser o sacrificio usual para que Arão, o irmão de Moisés, entrasse no santo dos santos onde estava a arca do testemunho para fazer expiação pelos filhos de Israel?

Um novilho e um carneiro.
Um novilho.
Um carneiro.


10- Qual foi a primeira coisa que Deus ordenou colocar dentro da arca do testemunho?

As tábuas de pedra com os dez mandamentos.
O éfode de Arão, com o Urim e o Tumim.
Um vaso de ouro como o incenso sagrado.


11- Qual o povo que tomou a arca do testemunho dos israelenses em batalha?

Os moabitas.
Os filisteus.
Os edomitas.


12- Por quanto tempo a arca do testemunho ficou com os seus conquistadores?

Sete meses.
Um ano.
Um ano e três meses.


13- Em qual cidade de Israel a arca do testemunho ficou depois de ter sido devolvida?

Lo-Debar.
Bete-Semes.
Quiriate-Jearim.


14- Qual o nome do homem que tocou na arca do testemunho, quando Davi mandou buscá-la da casa de Aminadabe, e foi morto por Deus?

Uzá.
Aiô.
Nacom.


15- Quantos eram os objetos que a arca do testemunho guardava, por fim?

Dois.
Três.
Quatro.


16- O que Deus disse que aconteceria com a arca do testemunho quando Israel se convertesse e Ele lhes restaurasse a sorte na terra?

Seria colocada no novo templo.
Seria esquecida completamente.
Seria levada para o céu.


17- Quando a arca do testemunho reaparecer, onde ela será vista?

No céu.
Em Jerusalém.
No Monte Sinai.


8.8.14

Não é Minha Intenção...

    Dois malandros estavam precisando de dinheiro, mas não gostavam de se arriscar demais. Então um deles sugeriu que fossem assaltar uma loja cujo dono sabiam que era um crente. "Mesmo se formos apanhados," raciocinaram, "nenhum mal nos acontecerá". E foram executar o seu plano.
    Conseguiram entrar na loja de madrugada, contudo, no momento em que estavam esvaziando o caixa o dono da loja acendeu as luzes e confrontou-os, apontando uma espingarda diretamente para os dois.
    - Rapazes, de maneira alguma eu lhes faria mal... acontece que vocês estão parados bem no lugar aonde eu vou atirar!

Palavras Cruzadas Evangélicas 141

Caça Palavras Bíblico 141