Se o
dilúvio acontecesse hoje, Deus falaria com Noé, dizendo:
-
Dentro de alguns meses farei chover sobre a face da Terra até que ela fique
inteiramente coberta pelas águas, e todas as pessoas ímpias serão destruídas.
Porém, salvarei algumas delas, que ainda são boas, e dois exemplares de cada
espécie de ser vivo no planeta. Estou lhe ordenando que me construa uma arca.
Ele,
então, entregaria a Noé as especificações para a construção da arca.
-
Certo - diria Noé, - tremendo por causa das grandes exigências.
-
Alguns meses e começará a chuva - completaria o Senhor. - É bom que a arca
esteja pronta, do contrário, aprenda como nadar por um longo tempo.
Os
meses se passariam. Os céus começariam a encher-se de nuvens e a chuva já
estaria principiando a cair quando Deus avistaria Noé sentado na frente de sua
casa, soluçando. E nada de arca.
-
Noé - chamaria o Senhor. - Onde está a minha arca?
Um
trovão atingiria o solo, próximo de onde Noé se encontraria.
-
Senhor, perdoe-me! - Suplicaria Noé. - Fiz o melhor que pude, porém, só
arranjei grandes problemas. Primeiro, tive de conseguir uma permissão para o
projeto, e os seus planos não se ajustavam ao código. Então, fui obrigado a
contratar um engenheiro para redesenhar e adaptar o projeto. Depois disso, tive
de entrar numa briga a respeito de a arca precisar de um sistema anti-incêndio
completo. Meus vizinhos entraram com uma ação alegando que eu estava
infringindo as regras do código de área construindo a arca no quintal, e foi
necessário obter uma permissão especial a fim de poder continuar. Logo, surgiu
um grande problema para conseguir madeira suficiente, por causa da lei
limitando o corte de árvores com o fim de preservar as corujas. Consegui
convencer o departamento do Ministério do Meio-Ambiente de que precisava da
madeira para salvar as corujas. Ainda assim, eles não me permitiram que as
apanhasse. Então, nada de corujas. Depois disto, os carpinteiros se juntaram e
declararam greve. Foi preciso negociar muito com o sindicato antes de qualquer
um pôr a mão numa serra ou num martelo. Comecei a coletar os animais, mas fui
processado por uma associação defensora de direitos dos bichos. Eles objetaram
ao fato de eu só levar dois de cada espécie, alegando que se era para salvá-los
que fosse no maior número possível. Quando consegui reverter o processo, o
Ministério do Meio-Ambiente me mandou uma notificação avisando que eu não
poderia completar a arca antes de preencher um relatório sobre o impacto
ambiental do dilúvio. Eles não quiseram aceitar a ideia de não terem jurisdição
sobre a conduta de um Ser Supremo. Logo, os engenheiros das Forças Armadas
solicitaram um mapa detalhado do seu plano de dilúvio. Eu lhes enviei um globo
terrestre. Neste momento estou tentando atender a reclamação da Comissão de
Oportunidades Iguais versando sobre quantos afrodescendentes devo empregar na
construção, e o Imposto de Renda confiscou todos os meus bens alegando que
pretendo abandonar o país a fim de não pagar as taxas devidas. Penso que não
conseguirei terminar a sua arca antes de mais cinco anos, pelo menos!
O
céu começaria a limpar. O sol iria estar aparecendo. Um arco-íris se estenderia
de céu a céu. Noé olharia para cima e sorriria.
- O
Senhor está querendo dizer que não vai mais destruir a Terra? - Diria ele,
esperançoso.
-
Não - diria Deus, contrariado, - o Governo dos homens já o fez!
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