Havia antigamente, em certo país
oriental, um homem de grande sabedoria, já avançado em dias, o qual era
considerado por seus concidadãos como um modelo de virtude, havendo dado
inúmeras provas de dedicação à sua pátria, até mesmo com o sacrifício de seus
bens pessoais, e arriscando a própria vida. Certo dia, andando pelos campos
próximos à aldeia onde morava, ele encontrou uma caverna meio oculta por
arbustos. Adentrando-a para desfrutar de sua sombra, percebeu ser ela bem maior
do que julgara de início, e decidiu explorá-la, a fim de conhecer sua real
dimensão.
Providenciou ele uma tocha com um galho grosso e seco de
árvore e adentrou a caverna, encaminhando-se para o seu interior. Deparou-se,
surpreso, lá no fundo, com uma abertura de pequeno diâmetro na parede de rocha
úmida através da qual podia passar confortavelmente. Introduziu-se na passagem,
adentrando um túnel, e, após andar alguns metros, encontrou-se em uma câmara
espaçosa. Examinando-a com atenção, descobriu ao fundo dela grande quantidade
de enormes tonéis, uns ao lado dos outros. Aproximou-se, e, ao iluminá-los e
olhar para dentro deles, quase não pôde acreditar na visão que se apresentava
diante de seus olhos ofuscados: estavam os tonéis, todos eles, cheios quase até
as bordas de pedras preciosas que lhe pareceram ser da mais alta qualidade.
Encontravam-se, ali, diamantes, pérolas, safiras, esmeraldas... O velho homem
calculou rapidamente que estava depositada naqueles tonéis uma fortuna que
sobrepujava a riqueza toda do país onde vivia, se ela pudesse ser reunida em um
só lugar.
Retirando-se daquele lugar, o homem tratou logo de vender
todos os seus bens, e, com o dinheiro apurado, comprou aquela campo através de
uma oferta irrecusável, ficando de posse do tesouro escondido na caverna.
Ciente de que o país do qual era cidadão atravessava um período de grande
dificuldade, estando a maioria dos seus habitantes vivendo em profunda pobreza,
a qual chegava mesmo as raias de uma miséria generalizada, decidiu utilizar a
riqueza que lhe viera de forma tão inesperada às mãos para mudar
definitivamente a sorte de seus patrícios, objetivo perfeitamente alcançável
tal a magnitude da fortuna de que se fizera senhor.
Entretanto, aquele homem sábio compreendia, e tal fato
pesava-lhe no coração, que a situação deplorável a que chegara o seu país
devia-se principalmente aos mesquinhos hábitos e práticas de seus compatriotas,
os quais eram dados a toda sorte de vícios e artimanhas. Estavam sempre
dispostos a ludibriarem uns aos outros, tendo sido, ao fim e ao cabo,
derrotados e conduzidos à extrema miséria por sua própria desonestidade.
Considerou, então, que não estaria de acordo com a suprema
justiça simplesmente distribuir entre aqueles homens mal-intencionados o
tesouro que havia adquirido, pois eles não eram, certamente, por si mesmo
merecedores de tão grande dádiva. Por este motivo, concebeu um plano, de acordo
com o qual aqueles que recebessem certa quantidade de pedras preciosas,
suficiente para transformá-los em cidadãos abastados, teriam de demonstrar arrependimento
de seu mal comportamento e uma confiança absoluta no seu benfeitor, isto é,
nele mesmo. Tal confiança seria, por assim dizer, a chave que lhes abriria as
portas para uma vida nova, servindo como um atestado de que eles ainda se
mostravam dispostos a crer em algo, ou seja, na palavra de um único homem; como
se estivessem prontos a admitir que a espécie humana ainda tivesse esperança; que
ela possuía, ainda, uma chance de ser redimida de sua descrença e malignidade.
O plano foi arquitetado da seguinte maneira:
Primeiramente, o sábio homem determinou certa quantidade de joias
que seriam ofertadas a cada um que se mostrasse digno, por sua aceitação das
condições que seriam por ele determinadas, de recebê-las. A quantidade seria
igual para todos e suficiente para tornar um homem miserável em um homem rico
num abrir e fechar de olhos. Somente três condições haveria que deveriam ser
apresentadas a cada um a fim de qualificá-lo para receber aquela dádiva.
Em primeiro lugar, todo aquele que desejasse ter a sua parte
na riqueza oferecida deveria vender tudo o que possuísse, desfazendo-se dos
seus bens e entregando o montante do dinheiro recebido pela venda para o seu
benfeitor. Tal exigência era absolutamente a mesma para todos. Tanto aqueles
que possuíam apenas uma velha túnica e um par de sandálias rotas, quanto
aqueles que eram proprietários de terras, casas, jumentos, campos... todos
deveriam, igualmente, vender tudo e entregar o valor obtido.
E ninguém poderia reclamar de tal sistema, pois, independente
do que cada um tivesse de vender, o que receberia em troca seria muitíssimo
superior ao que deveria entregar. Até mesmo os homens mais ricos daquele país
participariam com lucro substancial na transação, tal era o valor da quantidade
de joias que havia sido destinada para cada um que aceitasse participar; e nem
mesmo os cidadãos mais abastados estavam impedidos de participarem.
Na verdade, tal sistema proporcionaria aos habitantes daquela
terra a oportunidade de viverem em uma sociedade igualitária e rica, tal como
se todos tivessem nascido de novo para uma vida melhor em um mundo ideal.
Quando, afinal, a totalidade dos moradores do país tivesse entregado o valor de
suas posses ao homem sábio, todos estariam igualmente abastados e satisfeitos,
cada um não possuindo mais do que o seu próximo, independentemente de quem eram
ou do que possuíam anteriormente.
A segunda característica do plano era a condição de que cada
pessoa só teria acesso a sua parte após a proposta ser apresentada para todos
os habitantes do país, proporcionando a cada um a oportunidade de aceitá-la ou
não. E para que esse resultado fosse atingido o mais rápido possível, o homem
sábio determinou que todo aquele que viesse a concordar com as condições
apresentadas receberia um documento com o seu selo particular, autorizando-o a
ser, ele mesmo, um divulgador daquele plano. Poderia, então, apresentá-lo aos
outros homens para que também estes o aceitassem e tivessem, igualmente, a oportunidade
de serem seus divulgadores. Desta maneira, se o primeiro que concordasse com as
condições do plano pudesse convencer um mínimo de dois outros homens a
aceitá-lo, depois disso, estes dois conseguiriam persuadir outros quatro, estes
quatro conseguiriam persuadir mais oito, e assim por diante, em progressão
geométrica. Logo, após um curto espaço de tempo, todos estariam de posse de sua
parte no tesouro e desfrutando a vida no reino do velho homem sábio.
A terceira condição estipulava que os habitantes daquele país
deveriam aceitar o velho homem sábio como seu rei, comprometendo-se a guardar
as leis, ordenanças e normas, todas elas muito justas e apropriadas, que ele
iria colocar em uma nova constituição para reger o país.
Em seguida, para dar início ao procedimento de apresentar a
sua proposta aos habitantes daquele país, o velho chamou seu único filho,
incumbindo-o de ser o primeiro a desencadear o processo que terminaria por
alcançar todas as pessoas daquela terra. Era, este seu filho, um jovem de grandes
qualidades, em tudo semelhante ao seu pai, ao ponto de todos dizerem que quem o
via era como se estivesse vendo o próprio pai, e a quem este último decidira
colocar na posição de maior destaque em seu futuro reino. Enviou-o, pois, para
o meio da plebe miserável que constituía a grande maioria de seus concidadãos e
deixou-se ficar no seu campo, no qual construíra uma mansão maravilhosa,
exatamente sobre o lugar onde estava a caverna com o tesouro escondido, a
aguardar os resultados do seu projeto.
Logo, tendo vestido uma velha túnica e calçado um par de
sandálias rotas (para não parecer diferente das pessoas às quais iria
apresentar-se), saiu o jovem para o meio do povo, a percorrer a terra. Tentava
convencer os habitantes de seu país a venderem tudo o que possuíam e
entregar-lhe o dinheiro recebido, a fim de tornarem-se proprietárias de uma
parcela do tesouro de seu pai. Andava a pé pelas estradas empoeiradas e
pedregosas, sob o sol escaldante das regiões áridas, sentindo na pele o frio
das madrugadas ao relento, e dormindo, quase sempre, estirado sob alguma velha
figueira à beira do caminho.
Havendo ele partido cheio de alegria e confiança, logo
constatou não ser das mais fáceis a tarefa que o pai lhe confiara. Pouquíssimas
pessoas acreditaram, de inicio, em suas palavras, apesar de que, ao saberem da
possibilidade de ficarem ricas de uma hora para outra, multidões o cercavam
buscando ouvir o que ele tinha para dizer.
Contudo, a grande maioria dos que iam até ele para escutar a
sua mensagem não estava disposta a abrir mão de tudo o que possuía para ser
merecedor de receber, no futuro, a sua quantidade de joias. Alguns até mesmo
desconfiavam de que estavam sendo enganados, pois eram, eles mesmos,
enganadores contumazes, não acreditando no que o jovem dizia a respeito das
intenções de seu velho e bem conhecido pai, de quem ele era o retrato fiel e de
quem trazia uma declaração confirmada com o seu selo particular, impossível de
forjar. Outros, apesar de acreditarem, não queriam trocar o pouco que tinham no
presente por algo que ainda iriam receber no futuro, pois estavam apegados
demais as suas posses.
Tal fato entristeceu muitíssimo aquele jovem, ao tomar
conhecimento, tão claramente, da incredulidade de seus patrícios. Apesar disso,
ele continuou em sua missão, determinado a cumpri-la de acordo com a vontade de
seu pai. De início, conseguiu convencer somente doze homens, os quais
transformou em um pequeno exército treinado para levar as boas novas até os
rincões mais escondidos de seu país, após haverem passado um bom tempo em sua
companhia, seguindo-o por onde quer que fosse e aprendendo dele tudo sobre o
assunto. Estes homens iam e voltavam continuamente a ele, trazendo-lhe
relatórios do progresso obtido. Contavam-lhe, amiúde, que haviam sido vítimas da
descrença de seus concidadãos, colocados muitas vezes em prisões e até mesmo
apedrejados pela turba ignara e desconfiada.
Chegou, afinal, o dia em que o jovem deveria voltar e
apresentar-se diante de seu velho pai, com o fim de lhe entregar um relatório contendo
os resultados da missão que lhe fora confiada. O sábio homem muito se alegrou
ao vê-lo aproximar-se, julgando haver chegado o tempo em que, de acordo com
seus cálculos, poderia começar a distribuição de seu tesouro e transformar,
desta forma, a sorte daquela terra, iniciando-se nela, a partir daquele
momento, uma era dourada de abundância, paz e justiça. Entretanto, grande foi a
sua decepção ao saber que somente um número pequeno de seus concidadãos havia
crido nele e aceitado o seu oferecimento.
Irou-se grandemente o velho sábio contra o seu próprio povo,
por causa da sua incredulidade e dureza de coração. Então, chamando a sua
presença os doze que haviam crido primeiramente, e junto deles o pequeno número
de pessoas que eles haviam logrado convencer — não mais do que umas cento e
vinte almas — encarregou-os de, atravessando o rio que demarcava a fronteira de
seu país, dirigir-se à nação vizinha, levando-lhe a sua proposta. Era, esta
nação, ainda mais miserável do que a sua, cujos habitantes viviam num estado
completamente abjeto, embora fossem numerosos. Grassavam nesse país a fome e a
imoralidade, ao ponto de eles trocarem seus próprios filhos entre si para
comerem-nos, pois não tinham não tinham coragem, cada qual, de comer seu
próprio filho. Desta forma, determinou o velho e sábio homem que os seus
discípulos se dirigissem àquele país, apresentando seu plano a todos que
encontrassem pelos caminhos e nas cidades, dando atenção especial aos mendigos,
cegos, aleijados, mudos, enfermos e miseráveis de toda espécie.
Imediatamente, partiram os homens, temendo em seus corações
que a tarefa fosse muito difícil, pois raciocinavam: "Se em nossa própria
terra não fomos acreditados, mas perseguidos, quão mais dura não será para nós
a situação entre pessoas de outro país, no qual seremos estrangeiros sem
direito algum?"
Entretanto, logo o seu ânimo começou a mudar, pois muitas das
pessoas que habitavam naquela terra acolhiam de bom grado a proposta que lhes
era apresentada, em nada duvidando, mostrando-se, na verdade, maravilhadas e
agradecidas com a possibilidade de melhorarem de forma tão radical as suas
sortes. Quase todos os habitantes daquele país já conheciam a fama do velho
homem sábio, e, ao ficarem sabendo ser ele quem lhes garantia o recebimento das
joias, tratavam de vender rapidamente tudo o que possuíam, entregando o
dinheiro recebido para os seus representantes. E assim, em pouco tempo, estes
últimos já haviam conquistado um número suficiente de pessoas a fim de dar
início a partilha do tesouro.
Ao mesmo tempo em que os acontecimentos se desenvolviam de
forma tão maravilhosa no país vizinho, do outro lado da fronteira algo terrível
se passava.
Tendo enviado os seus homens, o velho sábio sentiu seu
coração constranger-se, amargurado por causa de seu próprio povo que havia
desperdiçado tão esplêndida oportunidade de sair da miséria na qual se
encontrava imerso. Resolveu, então, fazer uma última tentativa para ajudá-los,
ordenando que seu filho fosse mais uma vez ao encontro de seus concidadãos,
enquanto seus discípulos trabalhavam na nação vizinha.
Obedientemente, partiu o jovem como da primeira vez, para
anunciar as boas novas ao povo de sua terra. Desta feita, porém, trataram-no os
homens daquele lugar pior do que da primeira vez, maltratando-o ao extremo e
perseguindo-o de aldeia em aldeia, até que, havendo espalhado boatos perversos
a seu respeito e lhe imputado a fama de subversivo, tendo chegado à mais
importante cidade daquele país, as autoridades lançaram mão dele, colocando-o
no cárcere e deixando-o lá, incomunicável, por vários dias. Logo, improvisaram
um julgamento com o intuito de condená-lo, e, tendo arregimentado falsas
testemunhas, as autoridades e o povo em conluio acusaram-no de sedição, sentenciando-o
à prisão perpétua — o que, prontamente, trataram de executar, não sem antes
açoitarem o jovem, furiosamente.
Tendo chegado a triste notícia aos ouvidos do pai daquele
jovem, ele ficou extremamente decepcionado e lamentou-se por vários dias,
vestido de pano de saco e lançando cinzas sobre a própria cabeça, como era
costume naquele país, e jejuando por todo o tempo. Quando já se ia definhando,
chegaram os homens que tinha enviado à nação vizinha relatando o pleno sucesso
que haviam alcançado no cumprimento de sua missão. Isto fez com que o velho
homem se reanimasse, apesar de seu coração estar ligado ao filho detido na
masmorra sombria e úmida onde se encontrava acorrentado. Então, havendo se
alimentado um pouco, chamou os doze que haviam primeiramente crido, e
falou-lhes: "Ide àquela terra de onde viestes a pouco e reparti a cada um
dos seus habitantes que acreditaram na minha palavra a sua parcela do meu
tesouro. Narrai-lhes, igualmente, a minha desventura, a ingratidão de meus
concidadãos e o estado deplorável em que agora se encontra o meu amado
filho".
Então eles retornaram, imediatamente, pelo mesmo caminho por
onde haviam passado antes, conclamando todos os portadores do documento selado
que os qualificava como proprietários de uma parcela na fortuna do velho homem,
e entregando-lhes a sua cota. Com isto, os naturais daquela terra se alegraram
grandemente, pois seu infortúnio acabara e o futuro já não parecia ameaçador.
Entretanto, ao serem informados da desgraça que sucedera ao seu benfeitor,
entristeceram-se sobremaneira, indignando-se muito contra os habitantes do país
vizinho.
Depois disso, tomando conselho entre si, concluíram que não
poderiam deixar de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance a fim de ajudar
aquele que tanto os havia beneficiado, mesmo que para isto tivessem de colocar
em risco a sua própria existência. Logo, elegendo líderes dentre eles, trataram
de formar um exército, colocando sobre si mesmos chefes de cem, de mil e de dez
mil homens, e entregando o comando para os doze discípulos do velho homem
sábio. Compraram também, com a contribuição voluntária que todos apresentaram
do dinheiro que haviam recebido, armas sofisticadas, as mais eficientes que
puderam encontrar em outros países mais adiantados, até mesmo para compensar o
fato de haver dentre eles muitas pessoas com deficiências físicas, porquanto
haviam atendido ao plano do velho homem grande quantidade de cegos, surdos,
paralíticos e portadores de várias outras deficiências. Cada um contribuiu para
os gastos com uma pequena parcela de sua fortuna recém adquirida.
Bem armados e equipados, marcharam em direção ao país
vizinho, atravessando a sua fronteira. Enquanto avançavam, iam conquistando,
uma a uma, todas as cidades por onde passavam, escravizando seus habitantes; e
matavam a todos os que lhes ofereciam resistência. Contudo, muitos dos
habitantes daquele país, por aquele tempo, já haviam se arrependido de não haverem
aceitado a oferta do velho homem sábio, estando cansados das dissoluções de
seus compatriotas, e por este motivo eram hostilizados pelos outros. Havendo se
reunido em um partido que se opunha àqueles, tinham sido por eles aprisionados,
juntamente com o jovem, filho do velho homem. Saudavam, portanto, a chegada do
exército que vinha para pôr um fim àquele sistema degenerado, desejando
juntar-se a ele. Os homens chegaram, por fim, àquela magnífica cidade onde o
filho do seu benfeitor se encontrava encarcerado, juntamente com os que se
haviam arrependido. Levantaram um cerco contra ela, conclamando os seus
habitantes à rendição, porquanto eles haviam decidido resistir, confiados na
inexpugnabilidade do lugar onde viviam, que era cercado de altas e grossas
muralhas, e nas grandes quantidades de alimento estocadas em seus armazéns. Tão
confiantes estavam eles que enquanto a cidade permanecia sitiada entregavam-se
de forma desenfreada aos prazeres espúrios que tanto amavam, realizando festas
e banquetes nababescos que se prolongavam pelas noites e até o alvorecer, nos
quais grandes quantidades de vinho e outras bebidas eram consumidas, e sob cujo
efeito praticavam toda sorte de dissoluções e abominações.
Enquanto o cerco se prolongava, o general dos sitiantes,
havendo observado um rio que adentrava sob as muralhas, teve a brilhante ideia
de desviar o seu curso e invadir a cidade pelo leito seco. Ordenou, então, a
seus soldados que escavassem um canal a dois quilômetros de distância da
cidade, fora das vistas de seus habitantes, próximo ao leito do rio e indo em
direção a um grande lago que se havia secado completamente. Quando o canal já estava
completamente escavado, numa noite em que na cidade as pessoas se divertiam em
mais uma de suas intermináveis festas, os sitiantes abriram a separação que
havia entre o rio e o canal, e as águas fluíram impetuosamente em direção ao
lago vazio, que se foi enchendo gradativamente. E, quando o nível das águas já
permitia a passagem tranquila de homens armados e equipados, sorrateiramente o
exército adentrou a cidade, cujos habitantes, pegos totalmente de surpresa,
entorpecidos que estavam pelo vinho e pela orgia, não esboçaram nenhuma reação
apreciável. Em pouco tempo, a cidade estava nas mãos dos invasores, os quais
trataram de ir logo até a fortaleza onde o jovem se encontrava detido,
libertando-o de seus grilhões, e também os seus companheiros. Encontrava-se ele
num estado deplorável, devido à fome e aos maus tratos que lhe haviam sido impostos;
mesmo assim, alegrou-se muito em vê-los e ao ser inteirado de tudo o que havia
acontecido.
Depois disto, dirigiram-se à cidade onde morava o velho homem
sábio, que se sentiu grandemente confortado e feliz por reencontrar o seu amado
filho, são e salvo. Naquele mesmo dia, todos, de comum acordo, elegeram-no, ao
velho homem, rei sobre aquele país que haviam conquistado, bem como sobre sua
própria nação. Seu filho foi, então, colocado na posição de primeiro-ministro,
o que lhe conferia poderes absolutos para governar a terra como bem quisesse.
Ordenou, então, o rei que durante vários dias fosse celebrada
uma festa de comemoração em todo aquele país e no país vizinho, para cuja
realização destinou uma considerável parte de sua fortuna pessoal. E foi aquela
uma festa magnífica, tal qual jamais havia acontecido em qualquer outro lugar
ou época, nem jamais haverá! Milhares e milhares de bois, ovelhas e aves foram
abatidos, frutas exóticas e saborosíssimas vieram, trazidas de distantes países
em grandes quantidades, e havia vinho finíssimo em abundância como um rio a
jorrar. Mandaram chamar em todas as terras conhecidas os mais talentosos
músicos para alegrá-los enquanto durasse a comemoração.
E quando celebravam aquela festa suntuosa, como nunca houve
igual nem jamais haverá enquanto houver sol e lua, os naturais do país, que
haviam sido conquistados, serviam-nos às mesas, abanavam-nos à sombra dos
dosséis montados ao ar livre e carregavam-nos em liteiras adornadas, para onde
quisessem ir.
Tal situação perdura até os dias de hoje naqueles dois
reinos, com os habitantes originais da terra a servirem os seus conquistadores,
e estes a viverem regaladamente sob a direção do velho homem sábio e de seu filho
amado. E tudo, na verdade, que lhes havia sido exigido para merecerem tão
grandes dádivas, fora que cressem em sua palavra e aceitassem suas leis e
ordenanças.
Essa história tem tudo para ser interessante.
ResponderExcluirLerei o segundo capítulo outro dia, pois hoje minha conexão é por tempo limitado.
Tomara que o final seja diferente do que estou pensando agora.
Com a paz de Jesus.